Os clubes têm a obrigação de ampliar a voz das vítimas de racismo
Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Os clubes têm a obrigação de ampliar a voz das vítimas de racismo
O francês Mike Maignan, do Milan, foi atacado por torcedores da Udinese durante partida do Campeonato Italiano. A queixa dele só foi ouvida porque os colegas decidiram se pôr do lado da vítima
Bicha. Lembro da Copa do Mundo de 2014, quando os brasileiros, insatisfeitos com a própria estupidez, resolveram importar a bobeira alheia de chamar o goleiro adversário de "bicha". Naquela homofobia banal gotejava o ódio cotidiano. E qualquer medida contra a LGBTfobia nos estádios, fosse ela pública ou privada, era encontrada com a mesma justificativa de que "é assim porque sempre foi assim".
Dez anos se passaram, o grito foi esquecido, depois de uma série de punições sociais, que ameaçavam virar sanções esportivas. A homofobia está no armário, estendendo o braço sempre que o contexto futebolístico pede um tempero de estupidez.
Abro esse ínterim para mostrar o avanço a partir da conscientização pelo medo. A turbe torcedora não se tornou magicamente engajada. Apenas desenvolveu o medo de ser punida. Para isso, várias peças se moveram no Brasil. Ainda faltam muitas para o xeque-mate contra o preconceito no futebol. Mas, no ex-país do futebol, as minoriafobias chocam.
É raro que nosso provincianismo, nosso viralatismo, nos prometa oportunidade de ensinar. Para nós, a fortuna é rir de si mesmos — nos apelidar de ex-país do futebol, diria. Mas nossos estádios teriam dificuldades de tolerar um goleiro sendo chamado de "macaco". O torcedor ao lado seria o primeiro a levantar o gesto de "pare". Não porque somos mais engajados. Quiçá porque apanhamos mais cedo.
O francês Mike Maignan, do Milan, ouviu xingamentos da torcida da Udinese. Primeiro ignorou. Depois, reportou ao árbitro. Em seguida, deixou o campo. A diferença é que ele foi seguido pelos colegas. A partida podia acabar.
Acabou voltando a campo, vencendo um jogo de duas viradas. Admitiu que não queria voltar, mas que a resposta certa era ganhar os três pontos. Atento ao que acontece na Europa — e só lá —, o presidente da Fifa, Gianni Infantino, passou a defender derrota automática a clubes em casos de racismo. O progresso vem a trote, nunca chega a galopar.
Estivesse só, como antecessores estiveram, Maignan não teria sido ouvido. A voz dele foi ampliada pelos colegas, que deixaram o campo dispostos a perder. A empatia é uma vitória que se basta.
Proponho este jogo, em que todos os não preconceituosos ganham. A cada caso de racismo, machismo, homofobia, transfobia, outrofobia, um time inteiro deixa o campo. Que os estúpidos fiquem sozinhos, na arquibancada ou no gramado.
Cada time é uma voz. Deixe que a Fifa, os cartolas, a Conmebol, os dirigentes, corram atrás de construir um ambiente justo para todos. Talvez assim a sociedade desaprenda a ser preconceituosa. Deixe no passado os comportamentos do passado.
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