Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Se ser homem é gozar de privilégios e fechar os olhos à empatia, renuncio hoje a toda e qualquer masculinidade
Hoje eu não preciso me ater às verdades. Porque, aparentemente, a gente pode inventar argumento para justificar pensamento torto. Disseminar preconceito, imprimir LGBTfobia, criar espantalhos para serem perseguidos por fanáticos com tochas em mãos.
Nossa língua é machista. Se há 999 mulheres e um homem, ela determina que usemos o masculino, pela simples ausência de um termo neutro. É por essa mesma lógica que "hombridade" — a qualidade do homem — se tornou sinônimo de honestidade, de retidão de caráter, de probidade. Significa ainda virilidade.
É como se mulheres fossem incapazes de ser virtuosas. O sexo condenado. É como se qualquer homem que performe algo diferente da virilidade fosse impuro.
Pois por hoje prefiro não ser homem. Porque, olha, homem mata. Homem estupra. Homem tapa os olhos quando outros homens matam, chacinam. Homem faz vista grossa quando o craque do seu time é preso por estupro.
O benefício da dúvida só vem para nosso semelhante, não é assim? Se meu semelhante fosse só o "homem de barba no rosto", como eu poderia me reconhecer em quem é visto como escória pela sociedade?
Desconfio que se eu não fosse gay, talvez fosse um sujeito rolo compressor. Incapaz de exercer empatia porque veria como natural tudo que a realidade me dá de mão beijada. É por isso que meu orgulho é de ser LGBTQIA+. Quando me perguntam o que eu quero escrito na minha lápide, brinco: "Pelo menos não era hétero".
Nunca expliquei por quê. E a verdade é que eu tenho medo de quem eu podia ser. Homem. Ser minoria me obriga a ser radicalmente empático. Ainda que eu falhe nesta missão autoimposta. É por isso que eu paro tudo que estou fazendo toda terça-feira para escrever uma coluna sobre viadagem.
Hoje eu podia inventar argumento. Inventar siglas. Faço questão de me ater às verdades. Porque isso só é opção quando existe honestidade — hombridade? Não preciso da verdade de quem vomita ódio para ser este ex-homem.
Quem me odeia, que odeie. Hoje é crime, equiparado ao racismo.
Eu sou o que eu quiser ser. Ninguém tira isso de mim, ainda que seja tudo que me reste.
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