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Nunca é tarde demais para dizer adeus
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc

André Bloc esportes

Nunca é tarde demais para dizer adeus

Dizem que os craques têm a capacidade de fazer o difícil parecer fácil. Por isso e por tanto, Antero Greco foi meu MVP
Antero Greco morreu em maio de 2024, aos 69 anos. Jornalista tratava de um tumor no cérebro desde 2022 (Foto: Reprodução/Redes Sociais)
Foto: Reprodução/Redes Sociais Antero Greco morreu em maio de 2024, aos 69 anos. Jornalista tratava de um tumor no cérebro desde 2022

Fecho os olhos e consigo ver Antero Greco caindo lentamente da cadeira do SportsCenter. Rio e penso se não menosprezo um dos meus ídolos ao sorrir sempre que lembro que ele se foi.

Descumpri a promessa de interromper as férias caso o jornalista que tanto me marcou morresse. Mas entendi que a diligência séria de escrever um texto-homenagem soa grave demais para se dobrar a um homem que marcou pela leveza. Alguém como eu ficaria lisonjeado. Antero quiçá se ofendesse.

Mortos não respondem dúvidas, ainda que consigam seguir fazendo rir.

Antero é da seleção de 1970 da ESPN. Talvez fosse o Clodoaldo, aquela peça central sem a qual nenhum daqueles craques funcionaria no recheado meio de campo. Profundidade, informação e serenidade, por vezes, passam despercebidos ante a pirotecnia do jornalismo televisivo.

Foi ao encontrar o Bebeto dele, o Amigão, que a dimensão de Antero ficou evidente. O passar do tempo dá algumas perspectivas e a onipresença do humor na cobertura jornalística tenta replicar aquela química. E é sempre forçada, porque falta um Antero.

Dizem que os craques têm a capacidade de fazer o difícil parecer fácil. Craque Antero, o conceito cabe como uma luva.

Carisma não se ensina na faculdade. Timing de comédia é algo que até humorista consagrado erra. E muitos dos talentosos não teriam a perseverança de bibliômano que o Antero carregava em toda participação ao vivo. Enfurnado numa redação escura e cheia de cigarros nos anos 1980 e 1990 ou sob maquiagem no rosto para sustentar a luz das câmeras, o bem humorado palmeirense sempre chegava  preparado. E quase atrasado, pontualmente na hora que queria.

De certa forma, o recém falecido jornalista representa a completa moeda do que falta ao jornalismo esportivo atual. Numa das faces, tenta-se fazer entretenimento, mas falta profundidade, porque não há capacidade analítica suficiente para tal. Por outro, falta o magnetismo de trazer informação com leveza — driblando o complexo de "palestrinha". Só nasce um Antero Greco por vez.

Morte dá contexto. No dia 10 de maio, quando Antero se foi, finalmente entendi um dos motivos de ter prestado vestibular para jornalismo em 2005.

Este ano foi de enterrar craques do jornalismo esportivo. Alan Neto primeiro. Depois, Apolinho, Sílvio Luiz e Antero morreram em menos de 24 horas.

A morte não é injusta. Ela é democrática, distribuída em igual número a todos os seres vivos da face da Terra. Quem é injusta é a saudade.


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