Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Discurso antixenofobia de Mbappé o diferencia de Neymar, simpático a ideias ultraconservadores. Mas quem disse que o coração progressista precisa abraçar o que diz a lógica geopolítica?
Tinha por volta de 7 anos quando escolhi torcer Torino, hábito que mantenho como piada pra mim mesmo até hoje em dia. Não porque não tenha carinho pelo time grená, mas porque é irônico se enxergar como uma mariposa atraída por uma luz brilhante. É um time que não disputa títulos há décadas, afinal.
Por volta da mesma época que o Torino me arrebatou, me encantei pela Romênia. Quisera eu dizer que foi porque o futebol de Gheorghe Hagi me enchia os olhos, quando a verdade é que o nome Popescu soava engraçado. O camisa 10 só foi me chamar atenção pelo futebol vistoso de "Costan", o avatar do craque romeno no Superstar Soccer.
Em 1998, minha gaveta tinha adesivos da Romênia, da Iugoslávia, da Bélgica, da França, do Paraguai, do Chile e do Brasil.
Sigo simpático pelos romenos, porque a gente tem aquele instinto de torcer pro azarão — malditas luzes brilhantes. Meu ímpeto iugoslavo não foi herdado por nenhuma das repúblicas balcânicas. No máximo há um carinho pela Croácia, mais afivelado ao futebol de Luka Modric.
Paraguai e Chile ficam naquela chata simpatia por time inofensivo. Ninguém quer ser a seleção de quem todo mundo gosta. Privilégio este do qual a Bélgica abdicou na semifinal de 2018.
Já a França ganhou de goleada a antipatia já em 1998 — e olha que o governo francês me reconhece como conterrâneo desde que nasci.
Nunca nem cogitei torcer contra o Brasil. Não importa o quão extremista seja o discurso de Neymar, craque símbolo dos últimos 10 anos. Ou quantos ex-esportistas abracem a política do individualismo, da farinha pouca, da qual não comungo.
E nem diria que a motivação é um nacionalismo tacanho. O que me desperta sempre a torcer é a nostalgia. Não das grandes seleções que vi, mas a saudade de ser criança e vibrar com o pênalti perdido por Roberto Baggio.
Numa das primeiras crônicas que escrevi para O POVO, falei do quanto o futebol do Neymar me encantava, ainda que a personalidade dele já me causasse enfado. E mesmo hoje, em que o "menino" é mais subcelebridade que atleta, ainda suspiro pensando que, se motivado, ele ainda pode ajudar. Fazia tempo que eu não vibrava como o fiz naquele golaço que se fez frustrante contra a Croácia em 2022.
E admito, é tentador se dobrar ao Mbappé quando ele se posiciona politicamente contra a xenofobia dos partidos de extrema-direita franceses. O máximo que ele consegue, porém, é fechar a nesga de antipatia que eu nutria por ele por rivalizar com Neymar, que insiste em atravancar meu coração com sua vaidade equivocada e sua infinita birra mimada.
Dizem que tudo é político. Talvez quase tudo. Meus times do coração, não. É paixonite, dor autoinflingida, devaneio aleatório, simpatia por uma cor, por um atleta. Vez por outra por uma ideologia.
O outro lado de mim, o de nacionalidade francesa, nunca vai poder vencer a memória daquele pênalti perdido em 1994. Vivo a vida para voltar àquela felicidade, que seleção nenhuma do mundo é capaz de me proporcionar.
Nem mesmo se o Torino voltasse a vencer a Série A depois de quase 50 anos.
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