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Onzes de setembro e oitos de julho
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc

André Bloc esportes

Onzes de setembro e oitos de julho

Há pouco mais de 10 anos, houve uma derrota inesquecível do Brasil. Desde então, a seleção empilhou um sem número de derrotas plenamente esquecíveis
Tipo Crônica
Técnico Dorival Júnior no jogo Paraguai x Brasil, no Allegiant Stadium, pela Copa América 2024 (Foto: Rafael Ribeiro/CBF)
Foto: Rafael Ribeiro/CBF Técnico Dorival Júnior no jogo Paraguai x Brasil, no Allegiant Stadium, pela Copa América 2024

Desconfio que minha mãe é a única pessoa que não lembra onde estava no 8 de julho de 2014. Nem mesmo a referência ao 7 a 1 acende uma luz na memória dela.

Eu estava no finado restaurante O Alemão (#saudade), na Varjota, municiado do fotógrafo Fábio Lima e do cartunista Guabiras. Eram tempos mais auspiciosos e naquele então a gente tapava menos o nariz para brasileiros brancos trajando o branco uniforme alemão.

Foi como uma primeira depilação. A dor veio súbita, logo estava 4 a 0 e só restava o latejar pelo restante do primeiro tempo. De lá para cá, o brasileiro quase se afeiçoou à derrota, de forma a cumprimentá-la como uma amiga que sempre visita.

O problema é aquele maldito sentimento, que, apesar de ser o último a morrer, ainda assim é capaz de nos desfalecer. E quanto mais irradia a esperança, mais arde a dor da perda. Assim, sofrer um revés após abrir o placar com golaço de Neymar na prorrogação de uma quarta de final de Copa do Mundo é infinitamente mais doído que uma eliminação insípida da atual seleção de Dorival Júnior.

Nada contra ele. É que estamos nos acostumando a ser azarões. Quem torce Romênia sofre menos, já que cá reside a obrigação da vitória.

O que nos restou foram os talentos hipotéticos, as genialidades imponderáveis. Um Neymar imaginário, sempre motivado e nunca contundido. Um Estêvão projetado sem imaturidades ou dúvidas. Aquele Tite revisitado, cujo pragmatismo desta vez seria recompensado pela ânsia do povo que outrora cornetava.

Neymar está, aos poucos, ocupando o espaço de falsas memórias da seleção de 2006. Aquela, celebrada pelas hipótese da qualidade do "quadrado mágico". Uma seleção que nunca foi. O que faz falta não é o futebol, é a capacidade de projetar superioridade. O torcedor brasileiro vive no saudosismo do tempo que éramos reis. Enquanto o futebol brasileiro pouco se move para recuperar a majestade.

Desde 2014, foram cinco Copas América e o Brasil só chegou a duas finais. Ambas aqui. Ambas com Tite. E apenas uma rendeu título, sem Neymar (real ou hipotético). A outra, com o mais próximo que os Neymares chegaram da versão imaginária dele, resultou no fôlego necessário para o tricampeonato mundial da Argentina. 

Paralelamente, os clubes nacionais venceram as cinco Libertadores mais recentes. Há um claro descompasso. Talvez porque a glória individual tenha mais peso do que a coletiva. Talvez porque o verde-amarelo se manchou. Talvez porque o brasileiro desdenha do esporte em que não tenha certeza da vitória.

Perder nos pênaltis para o Uruguai nem dói tanto, porque já parece natural. Mal e mal é um vexame.

Quem vai falar disso no dia 6 de julho de 2034?

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