Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Foto: LUIZA MORAES/COB
Ana Sátila, que viveu um "dia da marmota" nas Olimpíadas, sentiu mais as quase vitórias que as derrotas incontestáveis
Antes do ódio ser direcionado às segundas-feiras, havia a primeira-feira. Desde a Revolução Industrial, ela absorveu a ira dos seres humanos, que desejavam seu fim enquanto se levantavam da cama para ir ao trabalho.
Mas a vida sempre impõe linhas de corte. Todo fim de semana tem seu fim. Na falta das primeiras, a raiva foi cooptada pelas segundas, que um dia cessarão de existir para redirecionar a fúria para as terceiras-feiras — que, para se desvencilhar do risco, adotaram um sotaque religioso do latim e se apelidaram de "terças-feiras".
Falsas lendas à parte, as Olimpíadas modernas foram reinventados pelo Barão de Coubertin com uma linha de corte mais generosa. Nos Jogos da Antiguidade, daquela Grécia dos livros embolorados, apenas aos campeões eram devidas as coroas de louro. O segundo colocado não passava do primeiro derrotado.
Desde então ficamos mais beligerantes com a derrota. Porque imagina ser o segundo melhor do mundo em alguma coisa. Eu desconfio ser atleta olímpico do budejo, arte esta ainda não tão apreciada pela maioria dos outros. Daí ter me focado em crônicas sobre diversidade sexual no esporte, ofício tão individualizado que, por falta de competição, arrisco ser campeão olímpico.
A medalha de prata é linda. Até mais fácil de combinar com as roupas. Já o bronze faz de todo mundo vencedor — contanto que seja melhor do que todas as pessoas do mundo, menos duas. Contudo, tal qual o objeto mais francês que existe, a guilhotina, impõe-se a linha de corte.
Imagina a decepção de ter só um punhado de gente melhor do que você no que faz e, ainda assim, todos os olhares estarem voltados aos demais. Veterana de três Olimpíadas, a canoísta Ana Sátila resumiu a angústia do quase. "Está sendo, acho, o momento mais difícil da minha carreira", disse ela, ao ficar a menos de 3 segundos do bronze. Ela, que em 2012, aos 16 anos, era a caçula da delegação brasileira. Ela, que em 2016, não chegou à final. Ela, que em 2020 — esperança de medalha —, sofreu punições e terminou a decisão como última. A guilhotina do quase rasgou mais da pele.
Ou ainda o mesatenista Hugo Calderano, meu olímpico favorito, que se preparou para ser cabeça de chave para só ser eliminado por um chinês na semifinal, de forma a ter a chance de derrotar o francês Felix Lebrun pelo bronze. Mas eis que o sueco Truls Moregard bagunçou a chave, eliminou Wang Chuqin e fez do brasileiro favorito a chegar à final. A zebra doeu tanto que ele já chegou na luta pelo bronze cortado pelo quase.
No fim, nos sonhos olímpicos que se ressonham, fica a lição do nadador Bruno Fratus. Bronze nos 50m livres em Tóquio-2020, ele foi alguém ferroado pelo quarto lugar por 2 centésimos em 2012 e pela sexta colocação de 2016.
Ao lado de um devastado Guilherme "Cachorrão" Costa, que, apesar de ter feito melhor tempo da vida em plenos Jogos Olímpicos — com tempo que asseguraria ouro em Tóquio-2020 — não passou do quase, Fratus afagou. "Você fez a prova. Você bateu o recorde sul-americano numa final, o que é extremamente difícil (...) Enxerga isso (frustração) como algo positivo, leva pra piscina e treina. A competição não acabou, não".
O esporte se renova. Termina uma competição, começa a preparação da próxima. Como as semanas e os fins de semana.
Tem (quase) sempre alguém melhor. Tem sempre um dia melhor.
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