Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Rosário Central, que decide vaga nas quartas de final da Copa Sul-Americana contra o Fortaleza, publicou orientação aos torcedores, avisando que, no Brasil, eles podem ser presos por racismo
Foto: AFP PHOTO / FRANCK FIFE
Pelé sintetiza muitas das complexidades do que é ser brasileiro
A homofobia no futebol só surgiu no dia em que um iluminado resolveu questionar se não era errado chamar o goleiro rival de "bicha". Antes, todo o credo de ataques à sexualidade era válido.
De tão comum, o preconceito chegou a ser defendido como vergalhão do futebol. Como se fosse algo intrínsseco tal qual a bola ou o 4-4-2. Mas a verdade é que o racismo, a homofobia, o machismo, são alienígenas, invasores que usurpam o espaço daquilo que realmente importa.
No Brasil, terra de Pelé, o futebol é preto. Desde o coroamento, muitos craques vieram e tantos mais virão. Maioria deles negros, porque o esporte nacional é chance rara de ascensão social numa sociedade cheia de castas. Pelé é parte da identidade nacional, ainda que rejeitado por gerações mais recentes pelos erros do alter ego mortal. Tudo junto, representa as contradições do que é viver nos trópicos.
Olhar para o país do futebol é, ainda que de soslaio, olhar para o tratamento do negro nas terras de cá. O esporte nacional é cultura, é política. O futebol foi, ainda que de soslaio, agente para a criminalização do racismo no Brasil, o país de Pelé. Porque ao reconhecê-lo rei, reconhecemos a majestade de um preto de pele retinta.
Atacar um atleta pela negritude é atacar Pelé, que representa uma razão de ser do brasileiro. O que não significa que o racismo morreu no Brasil, que, de tão racista, precisou criar uma lei específica para coibir ataques à população negra.
O Brasil tenta, há décadas, fazer as pazes consigo mesmo. E isso passa por se reconhecer negro e por se reconhecer racista. E isso começou com a primeira pessoa que questionou se não era errado mirar na cor da pele como vulnerabilidade de caráter.
A Argentina não teve Pelé. A Argentina dizimou a própria população parda, a ponto de se orgulhar da ascendência europeia. É um processo histórico de alienação. "Eles não sabem o que fazem" — o que não os exime de culpa.
Em Fortaleza, o Rosário Central orienta a própria torcida antes da partida decisiva com o Fortaleza nesta quarta-feira, 21. “Evite cantos, gestos e insinuações com conteúdo racial. No Brasil, são considerados crimes graves, penalizados por lei, resultando em prisão que pode chegar em até cinco anos”.
Soa até pueril. Mas houve um tempo em que alguém precisou apontar nosso preconceito.
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