Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Sábio aquele que se concentra mais no prazer da gozação do outro do que no lamento após um fracasso
Política e futebol comungam de um mesmo princípio. A probabilidade de um resultado favorável é ínfima. Logo, o caminho sábio, a rota mais direta à felicidade, é torcer contra os adversários. "Secar", no vernáculo futebolístico.
Há uma justeza poética nisso. Sempre tem alguém feliz. O Fortaleza passou três jogos sem vencer? Há de ser um bom dia alvinegro. O Ceará desperdiçou chance de entrar no G-4? Impõe-se o sorriso tricolor.
O Instagram do Esportes O POVO ilustra em números o infinito prazer da gozação. Fortaleza vence o Corinthians e assume liderança da Série A? Surgem 500 comentários de felicitude. Fortaleza perde para o Inter e não retoma a ponta do Brasileirão? Agora são 800 secadores comentando em júbilo. Ceará vence o Operário e cola no G-4? Opa, 300 alvinegros se refestelam com a boa fase. Ceará perde para a Chape e não entra na zona de acesso? Mais de 1000 tricolores fazem piada.
Os esportes tendem ao jogo de soma zero. Aqueles nos quais um vencedor sempre implica num perdedor e vice-versa. A dedicação renovada do "secador" surge como um jogo de soma infinita. Afinal, você perde com o seu time, e vence com a derrota de todos aqueles que escolheu para "secar".
A derrota é uma certeza inexorável. Ninguém ganha para sempre. O direito de zombar — frescar — está sempre na próxima porta. Até os torcedores do Torino hão de rir da Juventus. Até o Espanyol se impõe vez ou outra sobre o Barcelona. Nem o Bayern de Munique é campeão sempre. Tem time de Série C que elimina gigante da Série A, e assim se vai.
É uma equação simples. Em um campeonato, há apenas um campeão. E não importa quão baixo seja o sonho galgado, o esporte não abarca tantos vencedores.
Eu invejo o torcedor impermeável, aquele incapaz de mergulhar no otimismo. Blindado pelas décadas de fracasso, ele não ousa se infectar pela esperança, a causa de todas as dores. E o futebol é feito de dor. Derrotas, viradas, goleadas e rebaixamentos estão no roteiro dos times ao sul de Madri.
Secar, então, não só é inevitável, como é recomendável. É a expressão máxima da rivalidade, quando a pessoa é capaz de negar para si o prazer da vitória porque o riso zombeteiro ecoa por mais tempo. Torcer contra é tão deliciosamente ilógico que deixa de ser egoísmo e passa ao altruísmo — você não se preocupa consigo, mas com o outro.
É ano eleitoral. Fortaleza tem nove candidatos. Oito perderão. São 771 pretendentes a vereador. "Só" 43 entram, 728 ficam para titia. Comemoremos, pois, também por quem perdeu.
Quando a gente torce contra, sempre existe uma grama verde para amaldiçoar. Se de um lado ela está bem cuidada, basta atravessar a propriedade que a relva do outro já já perde toda a cor.
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