Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Rivalidade futebolística já virou até jingle. Mas até que ponto o passado de um político como dirigente é relevante na escolha de um gestor público?
Entre os nove candidatos a prefeito de Fortaleza, dois haviam sido mandatários de clubes de futebol. O senador Eduardo Girão (Novo) e o presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão (PT). O que até sugere um peso da rivalidade na definição do voto. Mas a realidade guarda maior profundidade.
A sempre quente rivalidade do Clássico-Rei parece enorme, mas é restrita. Pesquisa Datafolha neste ano apontou que Ceará e Fortaleza têm 17% e 15% da preferência da população cearense. Ou seja, 68% dos eleitores não se importam com um ou outro. E vou além, diria que a grandessíssima maioria dos 32% de alvinegros e tricolores são torcedores casuais. Algumas dezenas de milhares são engajados, enquanto uma minoria barulhenta é de fanáticos.
Digamos que 10% deles são fanáticos, seja para um clube ou outro. Extrapolemos o dado estadual como se fosse restrito à Capital. Isso dá 3,2% dos eleitores. Consideremos que o discurso clubístico vire o voto de 10% deles. O efeito total deste exercício seria uma influência em 4.500 votos. Não enche o PV, não elege um vereador. No máximo poderia mudar quem ia para o segundo turno em Caucaia, cujo pleito foi definido por 8 votos.
Contas de bar à parte, torcedores tendem achar que o mundo é uma bola de futebol. Mas é um globo, que gira indendentemente do que dizem os gritos de torcida. A mesma pesquisa aponta que o suposto time mais popular do Estado é o Flamengo, com 20% de preferência, que não foi assumido por nenhum dos candidatos. Aliás, um quarto dos entrevistados sequer torcem para um clube, então talvez o caminho seja evitar a retórica restritiva.
Não menosprezando a rivalidade entre Ceará e Fortaleza, mas o calor do futebol não esquenta a panela de óleo fervente do Fla-Flu político. Isso porque o segundo turno na Capital é um quarto, quinto turno entre lulismo e bolsonarismo.
Torcedor do Ceará, André Fernandes (PL) usa o futebol para atacar o neopetista Evandro Leitão, ex-presidente do clube do coração dele. Justo, porque na política o que se busca é desgastes ao rival. Injusto, porque a experiência esportiva do ex-presidente do Ceará o cacifa como candidato a maior dirigente da história do Alvinegro.
Entre 2008 e 2015, o Alvinegro conquistou um tetracampeonato cearense, um inédito título da Copa do Nordeste, subiu à Série A pela primeira vez na era dos pontos corridos, e viu o passivo trabalhista ser zerado, atingindo uma outrora impossível sanidade financeira. O que não apaga os desgastes dele com o outro clube grande da "capital do Ceará", ou o alegado sumiço em tempos de crise recentes.
Nada disso, porém, faz de Evandro ou André um bom ou mau prefeito. Um bom ou mau candidato. A gente não esquece que Fortaleza, a cidade, é infinitamente mais complexa que qualquer clube.
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