Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, desde 2018, é editor de Esportes. Trabalhou na cobertura das copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Cidades do O POVO. Assinou coluna sobre cultura pop no Buchicho, sobre cinema no Vida&Arte e, atualmente, assumiu espaço sobre diversidade sexual e, agora, escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO. Twitter: @andrebloc
Quando Gregor Samsa, certa manhã, despertou de sonhos intranquilos, encontrou-se em sua cama metamorfoseado na imagem perfeita de um jogador de futebol.
Estava deitado, completamente vestido de uniforme rubro-negro. As cores pareciam erradas, mas o traje, inadequadamente usado como pijama, parecia lhe vestir bem.
"Sou um jogador de futebol", pensou. Ou essa parte era sonho? Convenientemente, uma bola repousava no canto do quarto mal iluminado e Gregor Samsa resolveu testar o próprio talento. Não por muito tempo, já que no primeiro movimento a bola lhe escapou janela à fora.
Foi então que resolveu olhar em volta. Não era quarto de jogador bem sucedido — algo que já se provava verdade pela inabilidade exibida momentos antes. Tentou reconhecer a camisa, mas esses pensamentos mundanos lhe fugiram à mente. Ocorreu a Gregor procurar um espelho para entender melhor onde — ou quem — se encontrava.
Ao lado do pequeno armário de roupas, pôde ver o próprio reflexo de corpo inteiro. Flexionou os próprios braços, para admirar os bíceps. Olhou a própria feição, a bela barba negra, o cabelo descolorido. Tinha um corpo bem torneado, ligeiramente sobrepesado. Passou a tentar entender melhor o próprio incômodo com a camisa rubro-negra. "Não devia ser azul-celeste?", perguntou a ninguém.
Em busca de respostas, encaminhou-se para a porta de entrada da pequena casa. No chão, um jornal. A data era um punhado de números que nada diziam a ele, mas o endereço lhe despertou um desespero.
Gregor Samsa não estava em Belo Horizonte. Estava no Rio de Janeiro. Sentiu-se desamparado, como um cão esquecido pelo caminhão de mudança. Sentiu-se excluído, insignificante. Como pode tudo mudar tão rápido e ele não ser ouvido. Sentiu-se um farsante, um clone de si mesmo.
"Não, a palavra não é clone". Sósia. Finalmente algo fazia sentido. Gregor Samsa tinha um propósito. Doppelgänger, pensou, de repente versado na língua alemã. O alívio foi embora rápido como chegou. A angústia invadiu os pensamentos. "Pai celestial! Como posso ser outro em vez de mim mesmo?".
Os pensamentos gritavam na cabeça de Gregor, como uma multidão, duas torcidas ensandecidas disputando um amor incondicional. Queria trocar de roupa, trocar de profissão, trocar de cidade. Ouviu dizer que não se troca de time do coração — e assim outra fonte passou a jorrar angústia no seu coração.
Num grito de liberdade, escancarou a porta. Só havia uma solução. Despiu-se da camisa à chuteira, e as vozes cessaram. Irrompeu desembestado, deixando para trás angústias, medos e memórias de si. Correu até perder a própria casa de vista. E assim ganhou uma vida própria sua.
PS: Conforme noticiado por vários veículos, o "Gabigol da Torcida", famoso sósia do atacante Gabriel Barbosa, não irá abandonar o Flamengo mesmo após a saída do ídolo. A crônica talvez — talvez — tenha relação com este fato.
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