Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO
Tem dia que editor de jornal faz as vezes de astrólogo otimista, apontando atalhos para a equipe fazer uma cobertura mais completa em menos tempo
O segredo que todos sabem sobre o jornalismo é que existem obituários prontos para famosos convalescentes. Mas há aqueles moribundos resilientes, que se recusam a deixar este plano a ponto de inutilizar o esforço de equipes. A práxis jornalística muda mais do que o status vivente deles.
É assim que, morbidamente, floresce o cemitério de adiantamentos. Um labirinto de bifurcações, nas quais editores se desdobram como astromantes buscando adivinhar cenários mais plausíveis. Toda eleição tem um candidato perdedor com um texto de vitória sob seu nome. Derrotados, enterramos a matéria em vala comum, perdida das lápides das manchetes, que denunciam os atalhos por cortados no caminho.
Necrológios adotam a abordagem pessimista da realidade — a morte, ato final. Paradoxalmente, tendem a ser positivos, homenagens àqueles que atravessaram o rio Estige. Concomitantemente, os adiantamentos esportivos se debruçam no otimismo — o que é curioso ante o eterno negativismo dos torcedores mais fanáticos.
Redação do O POVO, 18 e tanto da noite desse domingo de volta do Vovô à Série A. "E se o Ceará não subir?", me perguntam. "Aí a gente lamenta e começa tudo do zero", bato na madeira. O benditamente cenário hipotético iria desencadear uma grande rodada de documentos soterrados num arquivo distante, sem chance de verem a luz do dia ou a tinta do jornal. O meio ambiente agradece por pouparmos os imensos servidores de textos sobre celebrações que acabaram presas à garganta.
O empate com o Guarani — ou, mais precisamente, o gol de Paulo Baya pelo Goiás contra o Novorizontino — exorcizou fantasmas que já se aventuravam entre os viventes. Não fosse assim, o cenário seria de luto. Cobertura de festa? Veio a falecer. Análise sobre o trio de ataque? Foi pro céu. Resumo da campanha do acesso, com arrancada no fim? Não está mais entre nós. Celebração da artilharia de Erick Pulga? Morreu, mas passa bem.
O ofício da precognição incute de riscos o jornalismo. A cobertura da final da Copa Sul-Americana de 2023 deixou para trás sintomas de estresse pós-traumático na equipe, tamanho o esforço dos adiantamentos que hoje nos perseguem como assombrações. Um ou outro Frankenstein foi redivivo em textos da linha "copo meio cheio". Aos demais, terra. E assim foram com o sem número de não acessos de Ceará e Fortaleza. Lamentamos juntos o troféu de primeiro perdedor de todos os vices.
A realidade se impõe, o jornalismo é dinâmico. Preciso agora só de um instante para rezar uma novena em homenagem ao Léo Condé, que nos permitiu parir a fórceps uma cobertura digna para um acesso histórico.
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