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O desafio de quebrar a câmara do eco do jornalismo esportivo
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO

André Bloc esportes

O desafio de quebrar a câmara do eco do jornalismo esportivo

De um lado, há o desejo de espraiar os interesses um público viciado num tipo específico de conteúdo. Do outro, busca-se fisgar aqueles para quem esporte é apenas uma futilidade
Esta coluna é sobre direitos humanos, sobre esporte, sobre política e sobre LGBTs, como eu (Foto: Staff Images / Cruzeiro)
Foto: Staff Images / Cruzeiro Esta coluna é sobre direitos humanos, sobre esporte, sobre política e sobre LGBTs, como eu

Descrente que sou, tenho um fascínio por aquilo que me assombra. Jornalista que estou, sou perseguido pela dúvida sobre para quem escrevo. Quem me lê? Quem deveria me ler?

Cronista é criatura narcisista, daí abro uma sessão espírita para me desvencilhar do autocentrismo. E há algo que me atormenta desde 2018, quando eu engatinhava como editor de caderno esportivo. Quem nos lê? Quem deveria nos ler?

Parece que existem duas vozes dissonantes insistindo em bater às portas dos jornais. De um lado um público esportivo carente de um conteúdo sobre eles — aliás, sobre aquilo de mais íntimo neles: os amores. Tudo que negue tal paixão, que aponte noutra direção, é sumariamente rejeitado. É uma eterna busca por ecos: o colunista que concorde com você, a análise consonante à sua. O viés é bem-vindo, contanto que rime com o próprio seu.

Convencionou-se criticar o BlueSky, rede social concorrente ao finado Twitter (o natimorto X), por ser uma câmara do eco, que estimula a alienação de debates. E eu fico pensando se no jornalismo esportivo, por vezes, nós optamos por ecoar mais do mesmo para amplificar o interesse em quem nos dá, em forma de audiência, a vazão da própria paixão.

E assim chegamos ao outro caixão do eco. Aqueles que consomem todo o jornalismo ofertado, exceto o esportivo, sumariamente reduzido a algo menor, restrito. Eu seria hipócrita ao não entender essa ala de leitores, uma vez que martelo por aqui que existem coisas mais importantes que o futebol — quase todas, aliás. Eu seria tolo ao ignorar que loto esse espaço de reflexões ególatras como forma de mostrar que o jornalismo esportivo cresce quando propõe mais do que ecoar as ideias repetidas.

O jornalismo é um exercício de equilíbrio. Uma pretensa isenção. E é inútil quando serve apenas aos jornalistas. O bonito é conquistar, fisgar, fidelizar a ponto de ser cobrado. A ponto de ser lido, mesmo nos seus piores dias.

Às vezes os leitores podem parecer fantasmas que nos perseguem, incapazes de nos compreender. Talvez seja porque a gente é muito absorto no fazer, com os olhos fixos naquele mesmo ponto de luz. Absortos, somos incapazes de diferenciar um anjo de uma assombração.

A quem não conhece bem, suspiro que jornalismo esportivo é mais complexo do que parece. É a arte de ser senhor de vários corações, de guiar com olhos míopes um caminho de paixões cegas.

Nosso desafio é ser mais. Ser para mais. Desafiar os céticos a auscultarem a pulsação de uma arquibancada, entendendo o lugar central da leveza. É mostrar aos alienados que uma nesga para fora da caverna de Platão é capaz de melhorar o mundo. 

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