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Brasileiro é primeiro tenista da ATP a se assumir LGBT
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO

André Bloc esportes

Brasileiro é primeiro tenista da ATP a se assumir LGBT

João Lucas Reis, pernambucano de 24 anos, fez declaração de amor ao namorado, o ator Gui Sampaio Ricardo. Parece banal, mas ele fez história
João Lucas Reis (à frente), junto ao namorado, Gui Sampaio Ricardo (Foto: Reprodução / Instagram / @joaolreis)
Foto: Reprodução / Instagram / @joaolreis João Lucas Reis (à frente), junto ao namorado, Gui Sampaio Ricardo

Uma foto despretensiosa, na praia. Namorados correndo ao lado da ciclofaixa, a baía de Guanabara como plano de fundo. Na legenda, uma declaração de amor. "Feliz aniversário. Feliz vida. Te amo muito".

Parece banal. Aliás, tem se tornado mais banal. Mas o tenista recifense João Lucas Reis, atual número 367 do ranking da Associação de Tenistas Profissionais (ATP), é o primeiro profissional do tênis a falar publicamente sobre o amor a outro homem. 

Ele, claro, não é o primeiro tenista LGBT da história. No tênis feminino, existem exemplos notórios. Mesmo no masculino, há casos conhecidos — escândalos do passado e tenistas que saíram do armário após a aposentadoria. Aos 24 anos, João Lucas fez uma postagem que cada vez mais homens gays fazem. Declarou o amor ao ator Gui Sampaio Ricardo.

Nisso fico matutando que às vezes o que falta são melhores companhias, que nos estimulem a agir de acordo com nossos desejos. João Lucas teve certamente o apoio do namorado, o que dá o amparo necessário para expor a intimidade de um amor. Recebeu ainda o suporte de outros tenistas. Na postagem, o número 1 do Brasil, o cearense Thiago Monteiro, comenta que os dois são "maravilhosos". Outro destaque nacional, chama o casal de "lindões".

Penso nisso do suporte por causa de dois casos. O primeiro, mais antigo, do alemão Gottfried von Cramm. Era década de 1930 na Alemanha nazista e o "Barão do Tênis" era tudo que os ideais de arianismo propagavam. Mas ele não rejeitava com o nazismo e passou a ser perseguido por isso. Ficou preso por um ano, acusado de ter tido um relacionamento com um ator e cantor judeu.

O outro é o do norte-americano Brian Vahaly, ex-número 57 do ranking da ATP. Ele se aposentou em 2007, aos 28 anos. Dez anos depois, em 2017, ele se tornou o primeiro ex-tenista a assumir a homossexulidade publicamente. Mais do que isso, ele aprofundou a dificuldade de sair do armário durante a carreira.

Em múltiplas entrevistas, ele falou da linguagem homofóbica nos vestiários. Em uma delas, cita o peso do esporte individual. Ele está só, não tinha uma equipe para apoiá-lo na saída do armário.

No fim, o que a gente vê são passos rumo à normalidade. João Lucas recebeu a força do namorado. E dos colegas brasileiros do circuito. Ele fez algo extraordinário com a banalidade que a questão merece.

Ele, hoje, consegue ser, consegue viver, o que centenas antes dele nunca puderam.

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