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Messi fez Maradona se tornar menor? Maradona fez Di Stéfano ser esquecido?
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO

André Bloc esportes

Messi fez Maradona se tornar menor? Maradona fez Di Stéfano ser esquecido?

Morte de Amaury Pasos, possivelmente o maior nome da história do basquetebol masculino brasileiro, me fez pensar no papel das gerações futuras no apagamento de ídolos
Amaury Pasos, em visita a Fortaleza em 22/10/2016 (Foto: CAIO ROCHA/ISHOOT/ESTADÃO CONTEÚDO)
Foto: CAIO ROCHA/ISHOOT/ESTADÃO CONTEÚDO Amaury Pasos, em visita a Fortaleza em 22/10/2016

Talvez eu reverencie demais o passado a ponto de me recusar a ver que o novo sempre vem. Mas me doeu constatar o silêncio sobre a morte de Amaury Pasos. E me vi culpando Oscar Schmidt por isso.

A lógica não estava por si errada. A maior geração da história do basquete masculino brasileiro, que conquistou os Mundiais do Chile-1959 e do Brasil-1963, foi engolida pela memória do Mão Santa. Amaury e Wlamir Marques viraram reticências numa longa lista encabeçada pelo maior cestinha do esporte e por nomes de jogadores secundários com passagens pela NBA.

Foi quando me veio a lembrança do que Pelé dizia sobre os competidores pelo trono de melhor da história. Quando surgiu, questionava-se se ele era melhor que Di Stéfano. Depois, se era melhor que Gerd Müller, ou de Zico, ou de Maradona, ou de Zidane, ou de Ronaldo, ou de Messi, ou de Cristiano. Mas o cruzamento final sempre era com o Rei, o que lhe garantia a majestade.

Aí me pergunto como fica o legado de Don Diego após a ascensão de Lionel. Como o campeão da Copa de 1986 pode ser o melhor da história se não é unanimidade no próprio quintal? Não que o próprio Maradona não tenha sido suspeito de regicídio, suplantando a idolatria a Di Stéfano.

Maradona tinha seus pecados. Pelé — que inadvertidamente eclipsou Didi, Leônidas — também. Mas nenhum deles, nem os Oscares e os Messis, é de fato um regicida. Porque o vilão é aquele de sempre: o tempo.

Desconfio que grandeza é como um crediário infinito. Você paga para sempre pela evidência. Mas a cada parcela perdida — dentro do esquecimento, que se avoluma — precisa ser paga com um naco do próprio legado, arrematado pela próxima geração de gigantes.

No fim, é anacrônico comparar os feitos de Amaury e Wlamir nos anos 1960 com os de Oscar nas décadas de 1980 e 1990. Ou pesar o efeito dos gols de Leônidas, que quase ninguém vivo viu, contra os de Neymar, de quem os feitos não conseguimos fugir. O ideal de justiça não cabe em listas.

De certa forma, mesmo os maiores legados da história têm prazo de validade. O que é justo. Tudo tem de morrer — até as memórias se sujeitam à entropia.

Em novembro, um dos maiores boxeadores da história, Mike Tyson, foi perguntado sobre qual o tipo de legado que ele queria deixar. "Eu não acredito em legado. É só outra palavra para ego. Eu estou só de passagem. Eu vou morrer e vai ter acabado. Quem se importa com legado depois disso? Não somos nada. Estaremos apenas mortos. Nós somos poeira, nosso legado não é nada".

Tyson certamente sabe muito mais sobre legado, vaidade e grandeza do que eu.

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