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O que resta falar sobre violência nos estádios?
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO

André Bloc esportes

O que resta falar sobre violência nos estádios?

Os tradicionais e patéticos quebra-paus dentro dos estádios se repetiram no fim de semana passado. Como a idiotice é democrática, a cena ocorreu envolvendo torcedores de Ceará e Fortaleza
Fortaleza destacou faixas por paz no estádio após briga entre organizadas.  (Foto: Divulgação/Fortaleza EC/Instagram)
Foto: Divulgação/Fortaleza EC/Instagram Fortaleza destacou faixas por paz no estádio após briga entre organizadas.

A primeira coluna que publiquei neste espaço foi no dia 9 de junho de 2021. De lá para cá, foram perto de 200. E ainda que o tema central do que eu escreva seja aquilo que denomino como "esporte e viadagem", há um tema alheio — afim — que vez por outra desliza entre as prioridades do dia.

Pela 12ª vez, segundo planilha que tento manter atualizada, me dobro a falar especificamente sobre a violência praticada dentro e no entorno dos estádios. E, hoje, talvez até tardiamente, a fonte secou. O que eu posso falar que eu ou alguém melhor do que eu não tenha falado antes?

Cogitei fazer um pout-pourri de parágrafos dantes impressos, num autoplágio ególatra com que eu fingiria ter imensa importância. Afinal, "toda ideia publicada uma única vez permanece inédita" (segundo minha planilha, é a terceira vez que plagio este verso de Nelson Rodrigues). Mas fato é que sinto que desperdiço meu tempo pensando em torcidas organizadas.

Pior, o poder público se obriga a gastar tempo e recursos com o sacrossanto direito dos estúpidos de exercerem estupidez. Porque para alguns parece razoável responder com pedras e pauladas a uma rivalidade cruzada. Trocando em miúdos, o problema atual é que as organizadas fazem alianças com torcidas de outros clubes e assumem as picuinhas de gente que nem acha que nordestino é gente.

Aí os governos gastam pestana para discutir soluções para tal estúpido problema. Conferi aqui na planilha e em abril do ano passado eu já criticava a ideia de reconhecimento facial como a panaceia — aquilo capaz de curar todos os males — para a violência nos estádios.

A pressão por reconhecimento facial é expressão do jogo do empurra, da sensação forçosa de dever cumprido. Para os clubes, é forma de se livrar de punições de estádio com portões fechados. Para o Estado, é uma resposta de efetividade breve, talvez calcada no encarceramento em massa. Ressalto o talvez porque nunca ouvi ninguém falar sobre quais as consequência para os brigões flagrados. Ostracismo? Prisão? Reabilitação? Direcionamento para a areninha mais próxima, onde a pancadaria chamaria menos atenção?

É muita disposição de brigar, né? A cada dia me convenço mais da ideia de um colega, que propôs criar um jogo de eliminação de torcedores brigões, no estilo "Round 6", ou "Jogos Vorazes". Quiçá seja a única linguagem que os hooligans alencarinos seriam capazes de entender.

Calculo que no mais tardar em três meses terei a impedível oportunidade de voltar ao assunto violência nos estádios.

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