Trump, Canadá e o esporte como catalisador de revolta
Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO
Trump, Canadá e o esporte como catalisador de revolta
Talvez o esporte seja o espetáculo com maior audiência fixa do mundo. Disso brota a oportunidade de leitura de tensões públicas a partir da reação de torcedores
Sábado, 1º de fevereiro. Conforme manda a tradição da NHL, maior liga de hóquei no gelo do mundo, antes do início de uma partida entre time canadense e americano, o hino de ambos os países foi entoado em Ottawa, capital do país do xarope de bordo, para o duelo dos Senators contra o Minnesota Wild.
A canadense Mandia foi ao meio do rinque e, com os jogadores de ambos os times perfilados, cantou "Oh Canada", hino do país do hóquei. Aplausos e mais gritos que habitual. Ela então se voltou ao “Star Spangled Banner”, dos Estados Unidos. E pela primeira vez na história da liga, o ginásio se voltou às vaias. A cena se repetiu horas depois em Calgary, onde os Flames receberam o Detroit Red Wings. E no dia seguinte, em Vancouver, para Canucks x Red Wings. E segunda, para outro jogo em Ottawa, contra o Nashville Predators.
Desses, vi apenas o jogo do Canucks, time por quem eu torço. Inclusive, liguei a TV atrasado e já estava no hino do Canadá — com bandeirão na torcida e emoção nas arquibancadas. Curioso, voltei uns minutos no tempo para ver a reação de Vancouver ao hino do país de Donald Trump. A cantora, a ugandesa Agasha Mutesasira, tremia, mas não errava uma nota enquanto a multidão canadense vaiava sonoramente a música-tema da nação vizinha.
O hóquei é o esporte nacional do Canadá, apesar de apenas 7 dos 32 times da NHL serem de lá. É uma liga dominada por jogadores da mais fria das nações norte-americanas. Lá nasceram os maiores craques do hóquei no gelo: Wayne Gretzky, Mario Lemieux, Bobby Orr, Gordie Howe. Mas eu não conhecia o tamanho do nacionalismo canadense. Desconfio que nem eles próprios conheciam.
Os Estados Unidos e o Canadá são parceiros econômicos históricos. Mais que isso, tendo papel de coadjuvante até nas guerras contra moinhos de vento que o governo ianque promoveu em prol de impor um lucrativo senso americano de democracia em nações do Oriente Médio. Ao anunciar sobretaxação aos "amigos", Donald Trump desencadeou uma breve onda em mil lagos, que viraram um maremoto social no Canadá.
O esporte tem um potencial mobilizador que beira o infinito. É impossível dissociar a força (potencial) dessa multidão do fazer político. Por isso dói quando menosprezam o esporte, tratam como uma besteira menor. Pode ser uma besteira, mas pode mudar o mundo.
Um político habilidoso tem a obrigação de ouvir o que fala o povo. E onde mais ele se reúne do que nas praças públicas do esporte nacional?
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