Presidente da Conmebol combate o racismo chamando brasileiros de macacos
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO
Presidente da Conmebol combate o racismo chamando brasileiros de macacos
O paraguaio Alejandro Domínguez disse que uma Libertadores sem clubes brasileiros seria o equivalente a "Tarzan sem a Chita", em referência à chimpanzé melhor amiga do "rei da selva"
Foto: DANIEL DUARTE/AFP
Alejandro Domínguez comparou Libertadores sem brasileiros como Tarzan sem Chita
Após anos de acusações bem fundamentadas de conivência no combate ao racismo cometido (quase sempre) por torcedores (quase sempre) contra brasileiros, o presidente da Conmebol, o paraguaio Alejandro Domínguez, resolveu tratar diretamente do tema em discurso durante o sorteio dos grupos da Libertadores e da Sul-Americana.
Em português, língua falada apenas pelo Brasil, ele disse estar comprometido ao combate ao racismo. Não se manifestou na língua falada por ele ou pelos demais nove países, de onde advém grandessissíma parte das acusações de discriminação em campos de futebol — e aqui cito Argentina, Chile, Uruguai e Paraguai nominalmente.
Mas na Conmebol o soneto sempre é bem pior que a emenda. Apenas na única entidade futebolística que faz o trabalho da Confederação Brasileira de Futebol (CBF) parecer decente um presidente acharia de bom tom traçar um paralelo entre uma eventual ausência de times brasileiros em torneios da entidade e a falta que a chimpanzé Chita faria para o "rei da selva" Tarzan.
Bastava visitar o cancioneiro popular brasileiro que ele encontraria metáforas menos desastradas. Claudinho e Buchecha propõem 12 apenas em "Fico Assim sem Você", clássico do funk melody de 2002. "Avião sem asa / Fogueira sem brasa / FUTEBOL SEM BOLA / Piu Piu sem Frajola".
O problema do combate ao racismo no futebol é a incapacidade dos algozes de entenderem que não existe provocação de cunho racial. Domínguez, como parte da população sul-americana e europeia, é incapaz de exercer o básico da empatia para compreender que ser comparado com um animal ultrapassa qualquer limite de razoabilidade.
Domínguez pediu desculpas, mas no mínimo a metáfora com macacos pairava no subconsciente dele. Sobre intecionalidade sou incapaz de julgar, ainda que eu concorde com Leila Pereira, presidente do Palmeiras, quando ela diz que a pior comparação do mundo soa como uma provocação vinda do dirigente máximo do futebol sul-americano.
O brasileiro é alvo de racismo porque ele ousa ganhar. O Brasil não é o único país majoritariamente negro na América do Sul. Ao negro, só é permitida a subserviência. Para além de tudo, a comparação é péssima. Chita era a coadjuvante de Tarzan. O futebol brasileiro venceu os seis títulos mais recentes da Copa Libertadores. A gente não precisa da Conmebol.
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