João Fonseca, Boris Becker e uma pergunta: existe esporte sem torcida?
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Jornalista formado na Universidade Federal do Ceará (UFC). Foi repórter do Vida&Arte, redator de Primeira Página e, em 2018, virou editor-adjunto de Esportes. Trabalhou na cobertura das Copas do Mundo (2014) e das Confederações (2013), e organizou a de 2018. Atualmente, é editor-chefe de Esportes do O POVO, depois de ter chefiado a área de Cidades. Escreve sobre a inserção de minorias (com enfoque na população LGBTQ+) no meio esportivo no Esportes O POVO
João Fonseca, Boris Becker e uma pergunta: existe esporte sem torcida?
Torcedores brasileiros no Masters de Miami fizeram o show do horror de sempre, com xingamentos e barulho em horas inadequadas. Mas, peraí. Isso é tão errado assim?
Foto: Rich Storry / Getty Images North -America / getty Images via AFP
Aos 18 anos, João Fonseca já mostrou capacidade de levar multidões para ver jogos de tênis
O crescimento de João Fonseca no circuito mundial reacende um efeito colateral comum: o desrespeito às regras civilizatórias que regem o modo correto de torcer no tênis. Na derrota do prodígio brasileiro, de 18 anos, para o ótimo australiano Alex de Minaur, foram várias as interrupções do árbitro para solicitar silêncio às arquibancadas em Miami, capital latina dos Estados Unidos.
A cena não é nova e não é exclusiva dos brasileiros. Mais cedo no ano, o próprio Fonseca foi pressionado por argentinos no ATP de Buenos Aires — primeiro título desse nível para o jovem de 18 anos. Foi, diga-se, muito mais barulhento que o Rio Open, ocorrido dias depois e vencido por um hermano.
De Minaur, australiano filho de uma espanhola com um uruguaio, contemporizou e disse que a pressão foi grande, mas elogiou a torcida. "Apenas distribuindo amor por aqui", escreveu no X (antigo Twitter). Já a lenda alemã Boris Becker foi além. "O tênis precisa de atletas que atraiam multidões e criem uma atmosfera como a que vemos quando Fonseca joga. Não foi nada contra o De Minaur, mas em prol do garoto do Brasil", respondeu, em postagem crítica à torcida brasileira.
O comportamento dos brasileiros é sempre lido com um paralelo ao futebol — com toda a ironia do abandono atual que é a claudicante seleção brasileira. Mas o que me constrangeu na fala de Boris Becker foi o fato de quebrar um pouco a ideia cristalizada de que a torcida de tênis tem de ser feita de lordes.
Esporte é um espetáculo coletivo, mesmo quando disputado no um contra um. E, nisso, os aspectos psicológicos são sempre centrais: dificuldade de concentração na hora de um tiro ao alvo, briga com o rival para motivar a própria equipe no hóquei no gelo.
É obviamente constrangedor ver um brasileiro — mas não só ele — fugir à civilidade durante uma partida de tênis. O que Boris Becker me mostrou é que o esporte não precisa ser sempre o mesmo. Ele é capaz de evoluir para admitir novas nuances.
Até que ponto o barulho é um inimigo no tênis por elitismo, e as críticas aos torcedores "de futebol" crescem por classicismo?
Sigo constrangido pelo comportamento "futebolístico" em esportes de organização diferente. Mas Boris Becker deixou claras duas coisas para mim: Fonseca vai fazer o tênis crescer não só no Brasil. E não existe esporte sem torcida.
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