Sociólogo, com formação em Filosofia. Professor aposentado do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC). Conjuga as atividades acadêmicas de professor, pesquisador, sempre engajado em atividades públicas, à participação como conselheiro em diversas instituições nacionais e internacionais
Os programas sociais não combatem a desigualdade, mas têm um efeito importante para aliviar a miséria e a pobreza das pessoas nos contextos onde estão aplicados
Um dos temas recorrentes desta coluna é a desigualdade social, que considero o maior problema do Brasil. Trabalhar para erradicar a miséria e diminuir a pobreza é uma necessidade urgente, mas, certamente, não basta. Aliás, é perfeitamente possível diminuir a pobreza e, ao mesmo tempo, aumentar a desigualdade social.
O Brasil do início dos anos 70 do século passado fez exatamente isso. Na época falava-se de crescimento econômico ou desenvolvimento social, sendo que o conceito de crescimento significava um aumento concentrado do PIB, por oposição ao desenvolvimento, visto como um crescimento em todas as classes sociais e em todos os setores da sociedade.
A grande questão metodológica era o que fazer para obter um desenvolvimento sustentável. A visão de que o desenvolvimento fosse também ecológico veio depois. Creio que hoje a pergunta de como chegar a um desenvolvimento pleno voltou a ser considerada, mas não somente um crescimento econômico que chega superconcentrado em poucas mãos de poucos países. Pensar só em investimento e não em desenvolvimento produz um acúmulo de riqueza nas mãos de poucos.
Novamente, para muitos, se põe a questão metodológica. Desta vez, trata-se de saber qual é o papel da redistribuição. Melhor dito: reduz-se a pobreza com mais crescimento ou com redistribuição? Como resumiu um pesquisador: "Com mais capitalismo ou mais socialismo"? Pessoalmente, eu não hesito em responder que com mais capitalismo não se chegará a mais igualdade social. O capitalismo é um sistema voltado para a produção de riqueza, não para a sua distribuição; por natureza, o capitalismo é concentrador de riqueza e não de distribuição.
Por essa razão, os governos interessados pela igualdade aplicam diversas políticas sociais, tais como: microcrédito, Bolsa Família, Minha Casa Minha Vida etc. Esses programas não combatem a desigualdade, mas têm um efeito importante para aliviar a miséria e a pobreza das pessoas nos contextos onde estão aplicados. Para influir na redução da desigualdade, é preciso agir nas duas partes da equação, elaborando políticas que visem tanto os mais pobres quanto os mais ricos.
Acho que o Brasil é um bom exemplo de políticas adequadas. No início dos anos de 1970, tivemos um alto crescimento do PIB, mas esse crescimento deixou os mais pobres de fora; nos primeiros anos do governo Lula, criaram-se várias políticas sociais e houve uma elevação do bem-estar das classes mais baixas. Isso significa: 1) O mero crescimento econômico não afetou os mais pobres. 2) Políticas sociais bem dirigidas provocaram diminuição da miséria e da pobreza.
Mais capitalismo, portanto, não reduz nem a pobreza nem a desigualdade. Desde que o capitalismo vem sendo aplicado, ele produz riqueza sem justa redistribuição. Mais do mesmo só produz o mesmo. Crescimento com distribuição pode provocar um rearranjo da estrutura da sociedade na direção de maior igualdade; em outras palavras, em direção ao que se chamava desenvolvimento nos anos 60 do século passado.
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