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Alfabetização
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Sociólogo, com formação em Filosofia. Professor aposentado do curso de Ciências Sociais da Universidade Federal do Ceará (UFC). Conjuga as atividades acadêmicas de professor, pesquisador, sempre engajado em atividades públicas, à participação como conselheiro em diversas instituições nacionais e internacionais

Alfabetização

A educação infantil passou a ser uma preocupação dos sucessivos governadores e secretários de educação e passou-se a ter uma política de alfabetização embasada em vários e sucessivos programas

Um amigo certa vez me disse: "o Brasil foi capaz de montar boas universidades antes de alfabetizar seu povo". Alarmante verdade. Esta reflexão nunca deixou de me atormentar por continuar ainda sendo verdadeira, embora tenha havido grandes progressos. Foi no final dos anos 90 que se conseguiu colocar todas as crianças em sala de aula para serem alfabetizadas. Lembro-me que essa conquista foi festejada. De fato, foi um feito. Mas outra batalha se apresentava: a alfabetização. Não se poderia ter alunos analfabetos frequentando a escola. Mas foi exatamente o que ocorreu e continua ocorrendo, embora tenha havido enorme avanço.

Com efeito, a educação infantil passou a ser uma preocupação dos sucessivos governadores e secretários de educação e passou-se a ter uma política de alfabetização embasada em vários e sucessivos programas; portanto, um investimento contínuo em ferramentas diversas, destacando-se a escola tempo integral e a construção de escolas de qualidade. Mesmo assim, 34 anos após alcançar a plena presença das crianças em idade escolar, não se chegou a uma alfabetização no nível desejável.

Acaba de ser revelado o ranking de avaliação do SAEB (Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica) de todos os estados da Federação. O Ceará está orgulhosamente em primeiro lugar, após ter dado um salto extremamente significativo de 2021 a 2023: de 45% para 85%. Esse grande resultado, sem dúvida nenhuma, foi devido a um esforço comum (dirigentes, comitês gestores, professores, funcionários e pais) e todos merecem aplausos. Deve-se apontar que um projeto executado no Município de Sobral foi um marco e serviu de modelo e liderança. O exemplo não veio, portanto, de fora, mas nasceu e se criou aqui mesmo, na Zona Norte do Estado.

Gostaria de insistir, no entanto, na participação dos pais, que, na minha opinião, é um elemento-chave. Não sem surpresa, os pais influenciam os filhos e filhas e criam ou não uma confiança e um desejo de estudar. Pais que acreditam no estudo e na escola têm sucesso em dirigir os filhos para a escola. Pais que dizem e repetem "eu não estudei, mas você vai ter a chance de frequentar uma escola", "não vou deixar nada para você senão a educação" têm geralmente muito sucesso em incentivar os filhos a estudarem. Ninguém nasce com o gosto pelo estudo, que aparece em um ambiente propício, o que explica a melhor performance dos alunos de classe média. Os pais e especialmente as mães contribuem enormemente para o interesse e sucesso escolar dos filhos. Daí uma boa política é obter o apoio dos pais e estimulá-los a valorizar a escola e os professores. O sucesso provém da interação dos atores em colaboração para alcançar o objetivo desejado.

Saber ler e contar é imprescindível na nossa sociedade. Mas, uma vez alfabetizado, é preciso ler e ler muito, isto é, pôr em prática o que aprendeu. A alfabetização não é um fim, mas um meio para chegar à leitura de livros ou do celular, que são os
meios de aprender. n

 

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