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Precisamos falar sobre violência psicológica contra as mulheres
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Eleita uma das dez melhores executivas do Brasil, Anette de Castro é vice-presidente da Mallory. Líder e cofundadora do Grupo Mulheres do Brasil

Precisamos falar sobre violência psicológica contra as mulheres

A Lei Maria da Penha foi um marco importante no combate à violência contra a mulher, mas, para que seja efetiva, precisamos de um sistema judicial sensível e capacitado para lidar com as particularidades da violência psicológica
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Anette de Castro, empresária (Foto: DIVULGAÇÃO)
Foto: DIVULGAÇÃO Anette de Castro, empresária

A violência psicológica contra as mulheres é uma realidade invisível para muitos, mas profundamente destrutiva para quem a vivencia. Embora não deixe marcas aparentes, como a violência física, suas consequências são devastadoras, abalando a autoestima, a autonomia e a saúde mental das vítimas. No Brasil, a Lei Maria da Penha reconhece esse tipo de violência, mas ainda há um longo caminho para garantir que a sociedade compreenda sua gravidade e que as vítimas se sintam amparadas.

Essa forma de violência é caracterizada por ações como humilhações, manipulação emocional, isolamento social, ameaças e controle excessivo. Ela corrói a identidade da mulher, deixando-a presa a um ciclo de dependência emocional e insegurança. Além disso, muitas vezes, a violência psicológica é o prelúdio de agressões físicas, o que torna ainda mais urgente a sua identificação e enfrentamento.

Um dos maiores desafios para combater a violência psicológica é a sua subjetividade. Diferentemente de uma agressão física, que pode ser comprovada por marcas visíveis ou laudos médicos, a violência psicológica depende de relatos e da interpretação de contextos. Muitas vezes, as próprias vítimas têm dificuldade em reconhecer que estão sendo violentadas, já que essa prática é, frequentemente, naturalizada em relações abusivas.

É necessário investir em conscientização para desmistificar esse tipo de violência. Programas educativos que abordem relações saudáveis, comunicação não-violenta e respeito mútuo são fundamentais para prevenir casos futuros. Além disso, campanhas públicas devem informar que humilhações, insultos e manipulações não são "normais" ou "coisas de casal", mas formas de violência que precisam ser denunciadas.

Outro ponto crucial é o fortalecimento da rede de apoio às vítimas. Muitas mulheres permanecem em relacionamentos abusivos por medo de retaliações, pela dependência financeira ou pela falta de suporte social. É essencial garantir que elas tenham acesso a abrigos seguros, assistência jurídica gratuita e apoio psicológico para que possam reconstruir suas vidas.

A Lei Maria da Penha foi um marco importante no combate à violência contra a mulher, mas, para que a legislação seja efetiva, precisamos de um sistema judicial sensível e capacitado para lidar com as particularidades da violência psicológica. Profissionais como juízes, advogados e assistentes sociais devem receber treinamento para identificar e agir nesses casos, garantindo proteção e justiça para as vítimas.

Por fim, combater a violência psicológica contra as mulheres exige um esforço coletivo. É um compromisso que começa nas conversas cotidianas, na forma como educamos nossas crianças e nas políticas públicas que priorizam a proteção e os direitos das mulheres. O silêncio e a invisibilidade são os maiores aliados dos agressores. Precisamos falar sobre a violência psicológica para que ela deixe de ser uma realidade silenciosa e se torne um problema que a sociedade enfrenta e supera, lado a lado.

É hora de enxergar, ouvir e agir. A violência psicológica contra as mulheres é real, e falar sobre ela é o primeiro passo para transformá-la em passado.

 

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