Logo O POVO+
Santiago de Compostela pelo próprio pé
Foto de Ariadne Araújo
clique para exibir bio do colunista

Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.

Santiago de Compostela pelo próprio pé

Crentes ou não-crentes. A caminhada a Santiago de Compostela tem levado muita gente à estrada. Não é uma questão de fé, coragem ou busca pessoal. Mas de descobertas.
Tipo Crônica
Advogada Pollinne Holanda (Foto: Arquivo Pessoal/Pollinne Holanda)
Foto: Arquivo Pessoal/Pollinne Holanda Advogada Pollinne Holanda

 

.

A famosa bota de caminhada é o item principal de um peregrino. Não basta comprá-la, tem-se de amaciá-la antes da viagem. Dias e dias, para acostumar os pés ao esforço e à prisão dentro do sapato. Um amigo não cuidou dessa parte, voltou com duas unhas soltas e sanguinolentas. A advogada Pollinne Holanda salvou os pezinhos do martírio com um par de botas macios, meias específicas e massagens diárias de vaselina.

A mochila é o segundo ponto importante. Oito quilos, para Polline. Só o essencial, incluindo saco de dormir (que ela não usou), remédios, roupas leves e produtos de higiene pessoal. O saco de dormir é indispensável apenas para quem opta por dormir em albergues públicos. O problema desses alojamentos é que o peregrino tem de apressar o passo durante o dia para chegar mais cedo e pegar um bom lugar.

Pensando no conforto de uma caminhada ao ritmo dela, a moça preferiu os albergues privados, onde a cama fica reservada. O fato de ser privado não significa que há um quarto individual. Dorme-se em beliches, 4 a 8 pessoas por quarto. O banheiro de caminhante é no fim do corredor, saibam. Uma estrutura mínima de cozinha ajuda para um lanche, já que os albergues não têm cozinha.

A boa nova é que há uma rede de negócios em torno da peregrinação. Cafés, vendas, pequenos restaurantes ajudam e abrem cedo da manhã, para os que têm quilômetros a fazer. Em cada parada destas, a dica é carimbar o seu passaporte de peregrino – pelo menos dois carimbos por dia. Providenciados na cidade de partida da caminhada, o papel é a prova da viagem e essencial para receber o Certificado de Compostela.

Para obtê-lo na Oficina do Peregrino, tem-se de ter caminhado pelo menos 100 quilômetros. Pollinne fez uma média de 20, por dia. Na calma e dentro do conforto de suas botas, funcionou. De todos os jeitos, há sempre alguém pronto a ajudar. Esta comunidade de transeuntes evita perigos e problemas. Pelo terreno, ora na natureza, no pátio de uma cidade, ou na beira de uma pista, ela nunca se sentiu em risco.

Estes caminhantes, trocam-se experiências e histórias. Uma família colombiana – mãe, pai e três filhos – veio comemorar aniversários e a cura de um câncer de uma neta. Razões, cada um leva a sua nas costas - e nos pés. Se, no entanto, na chegada a Compostela, depois da missa do peregrino e a visita ao túmulo de Santiago, ainda sobrar energia e pernas, a peregrinação tem um pedaço extra.

A 100 quilômetros de Santiago, está o Finisterra (ou Fisterra). Este último trecho tem mais de mil anos e ficou conhecido como o caminho pagão. Remonta aos tempos em que se caminhava seguindo o curso do sol até o ponto em que ele se põe, sumindo no oceano. Para os antigos, este seria os limites do mundo – o finis terrae. Maravilha para a vista e a mente, por lá você pode finalmente tirar as botas.

Ou não? Muxía, dizem, é linda....

Foto do Ariadne Araújo

Ôpa! Tenho mais informações pra você. Acesse minha página e clique no sino para receber notificações.

O que você achou desse conteúdo?