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De volta às cabines telefônicas
Foto de Ariadne Araújo
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Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.

De volta às cabines telefônicas

Uma cabine telefônica das antigas virou atração turística em Murbach, pequena localidade ao pé da famosa estação de esqui do monte do Grand Ballon des Voges, na França. Os 160 habitantes agora não param de atender o telefone, que chama de todas as partes do país, e mesmo do estrangeiro
Tipo Crônica
Uso dos orelhões em Fortaleza
Na foto: Mulher usa Telefone Público (orelhão) na Praça do Ferreira
Foto: Deivyson Teixeira, em 05/07/2012 (Foto: DEIVYSON TEIXEIRA)
Foto: DEIVYSON TEIXEIRA Uso dos orelhões em Fortaleza Na foto: Mulher usa Telefone Público (orelhão) na Praça do Ferreira Foto: Deivyson Teixeira, em 05/07/2012

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A última cabine telefônica em uso na França tinha já os seus dias contados. A empresa telefônica andava a estudar a situação. Num vale denso de altas árvores, ao pé do Grand Ballon des Voges, como fazer para tirar toda a pequena aldeia de Murbach da rede fixa para a rede móvel, sem mexer um dedo na paisagem? Mal ou bem, o caso era que a cabine andava há muito tempo a quebrar o galho dos 160 moradores, embora haja por lá uma zona coberta por WiFi.

Esquecidos do mundo, vivia-se à moda vintage, sem se saber. Até que um dia, um jornalista achou o caso insólito e divulgou a história e o número do telefone no jornal regional. Do regional, passou-se ao nacional. Depois disso, o telefone não para de tocar. De todas as partes da França, mesmo do estrangeiro, liga-se para se dizer um simples bom dia. No vidro encardido da cabine, o prefeito mandou colar uma folha e pendurar uma caneta, para que se anote o nome e a cidade de origem dos telefonemas.

Conhecida pela sua abadia beneditina do século VIII e pela rede de picadas abertas na natureza para caminhantes, Murbach teve de incluir a cabine telefônica no seu patrimônio. Os turistas agora fazem questão dos selfies com o telefone à mão e, com sorte, querem gravar um filme no momento de uma chamada. Por causa disso, os guias turísticos alongam a visita, para além do jardim medieval. Vem gente só pela cabine, esquecidos das outras belezas locais.

Ao som estridente do telefone fixo a toda a hora do dia, os moradores já vão se acostumando que isso virou atração. A telefônica suspendeu os planos de aposentar a cabine. Talvez uma velha cabine de rede fixa como esta nos faça lembrar do tempo em que a gente só pegava no telefone quando era necessário. Diferente de hoje, da facilidade de tê-lo no bolso ou na bolsa, a toda a hora da noite e do dia, em comunicação não-stop. Em Murbach liga-se por um sincero bom-dia, outro costume vintage que precisamos salvar.

Foto do Ariadne Araújo

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