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O céu sépia que liga Portugal ao Brasil
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Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.

O céu sépia que liga Portugal ao Brasil

Setembro começou bem em Portugal, sem promessa de desgraça. Mas os incêndios recomeçaram em força, nas florestas do Centro e Norte do país
Tipo Crônica
Carlos Eduardo, pernambucano que morava há 5 anos em Portugal, morreu nos incêndios florestais do país. Na foto da direita, segura a filha no braço, à época, com 3 meses de vida (Foto: Reprodução/ Redes sociais)
Foto: Reprodução/ Redes sociais Carlos Eduardo, pernambucano que morava há 5 anos em Portugal, morreu nos incêndios florestais do país. Na foto da direita, segura a filha no braço, à época, com 3 meses de vida

 

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Aveiro, a bela cidade que os portugueses cantam como a Veneza de Portugal, com canais que convidam a passeios aquáticos a bordo de coloridos moliceiros, viu-se cercada pelo fogo. Quem conhece aquela região, não acredita. Do mar, canais, áreas alagadas de natureza, pássaros, vimos o fogo à porta. Enquanto aguentam-se nestes sobressaltos, entre baldes e pedidos de socorros, os portugueses revêm pesadelos.

Em 2017, em Pedrogão Grande, 64 pessoas morreram e mais de 200 saíram feridas. Agora, neste fim de verão, os incêndios já fizeram 4 mortos e muitos feridos. E nem falo dos animais, que estes, parece, ninguém conta. Até ontem, mais de 100 focos de incêndio avançavam, no Centro e Norte de Portugal. Mais de 8 mil bombeiros, exaustos, sem mãos para tanto.

Um incêndio não é coisa pouca. Assusta, arrasa casas e vidas, a natureza, os animais. Consome, consome-nos. Tinge o céu de um cinza-sépia. Como não se importar? Falta de controle, de civismo, de cuidados, do cumprimento das leis – muitas delas em defasagem. E, também a mão humana, pirômanos ou não, todos criminosos, uns e outros.

Em Portugal, também (e principalmente) no Brasil – na Amazônia, no Pantanal, no Cerrado. De acordo com Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), de todas as queimadas que ocorrem na América do Sul, 71,9% concentram-se no Brasil. Toneladas de CO2 na atmosfera que agravam o efeito estufa e o aquecimento global. Matam a fauna e a flora, ameaçam os povos indígenas.

Se, entre os incêndios no Brasil e em Portugal, os problemas são diferentes e complexos – aqui, engavetam-se projetos de reforma florestal; aí, são queimadas, atividades ilícitas e o descaso, o que complica a coisa —, toda floresta é de relevância pública, da humanidade. Deixar queimar florestas é crime, perversão e estupidez. Atentado à vida dos outros e, a médio e longo prazos, à própria descendência.

A floresta queima, a vida na Terra vai tornando-se sépia.

Foto do Ariadne Araújo

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