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A constelação da extrema-direita
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Ariadne Araújo é jornalista. Começou a carreira em rádio e televisão e foi repórter especial no O POVO. Vencedora de vários prêmios Esso, é autora do livro Bárbara de Alencar, da Fundação Demócrito Rocha, e coautora do Soldados da Borracha, os Heróis Esquecidos (Ed. Escrituras). Para além da forte conexão com o Ceará de nascença, ela traz na bagagem também a experiência de vida em dois países de adoção, a Bélgica, onde pós-graduou-se e morou 8 anos, e Portugal, onde atualmente estuda e reside.

A constelação da extrema-direita

A eleição terminou no Brasil, mas o jogo está em aberto. Nos Estados Unidos, e no mundo. Todas as eleições interessam — já não há mais aqui e lá, dentro e fora, longe e perto. Devemos estar atentos à constelação mundial da extrema-direita, ou ela nos atropela
Tipo Análise
Donald Trump é candidato republicado à presidência dos Estados Unidos (Foto: KAMIL KRZACZYNSKI / AFP)
Foto: KAMIL KRZACZYNSKI / AFP Donald Trump é candidato republicado à presidência dos Estados Unidos

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O cometa Trump risca o céu e arrasta na cauda um grande número de aliados — todos iguais ou piores. Bem maiores em número que durante o seu mandato como presidente dos Estados Unidos, entre 2017 e 2021. Naquela época, Trump tinha o apoio de apenas alguns dirigentes autoritários, que viam nele um jeito de contrariar as democracias ocidentais. O círculo pequeno de antes agora cresceu. Ditadores, fascistas e radicais de uma masculinidade tóxica soltaram-se e uniram-se, sem nenhuma vergonha.

Se antes Trump mantinha essa ligação “viril” com homens que considera “fortes” — como o presidente da China, Xi Jiping, o norte-coreano, Kim Jong-un ou, claro, Vladimir Putin —, o contato privilegiado com autocratas cresceu, expandiu-se. Certo que neste curto espaço de tempo em que ele deixou a presidência dos Estados Unidos, Trump multiplicou os telefonemas com Putin. Fez o mesmo o seu principal aliado Elon Musk, o milionário não esconde a admiração pelo presidente russo.

Entretanto, a ideologia Trump propagou-se no mundo, virou quase uma “marca”: discurso anti-imigração, protecionismo e nacionalismo, valores tradicionais da família e de religião, a rejeição de leis mais em fase com os direitos das mulheres e de populações fragilizadas, negacionismo e indiferença à mudança climática, ataques à justiça e à liberdade de imprensa. Reconhecemos no cenário brasileiro os defensores destas ideias?

Segundo Trump, a oposição dos que lutam por outras causas, consideradas por ele mais à esquerda, são os “inimigos, ao interior do país”. Inimigos, portanto, a serem silenciados. E de ouvirem e saberem tais coisas, outros dirigentes batem palmas, total acordo com estas ideias. A constelação da extrema-direita, antes composta por um núcleo duro, expandiu-se. Façamos as contas.

Do russo Vladimir Putin, ao norte-coreano Kim Jong-un, ao húngaro Viktor Orban, ao israelita Benjamin Netanyahu, ao indiano Narendra Modi, agora com novos-chegados ao clube, como o argentino Javier Milei e a italiana Giorgia Meloni. Viktor Orban, aliás, é o novo queridinho de Trump, citado várias vezes em discursos. Prometeu publicamente abrir com o gume do sabre o gargalo de uma champagne, se o amigo norte-americano for eleito.

A Hungria, um pequeno país que se tornou modelo e laboratório para ditadores e apoiantes da extrema-direita radical. A Hungria, a nova amiga dos ditadores. A Hungria, amiga-irmã de Bolsonaro. Conselheiros de Viktor Orban, inclusive, fazem constantes vai-e-vém aos Estados Unidos, em trocas de figurinhas para a campanha Trump. Se Trump ganha, ganham todos eles, a uma só vez.

O movimento é mundial, infelizmente. A direita radical já participa dos governos na Holanda, na Finlândia, pregressa a olhos vistos na Alemanha, na Espanha, em Portugal, na França. Uma onda internacional ultraconservadora. Neste caso, eu acho, não basta mais só votar bem no Brasil — o que é de extrema importância —, mas também ficar atentos a esta chuva de meteoros, capaz de escurecer o céu e asfixiar o vivente. E nós queremos sol pra todo mundo.

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