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A carestia de ontem, a inflação de hoje
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Empresário, natural de Maranguape, presidente do Clube de Dirigentes Lojistas de Fortaleza, é também escritor, autor dos livros "História de Assis" e "Gonzagão no céu e outras histórias"

A carestia de ontem, a inflação de hoje

A responsabilidade pela inflação alta não é do empresário, mas do poder público, que não tem o controle sobre seus gastos. O controle dos preços a sociedade faz; quando vê que o produto está caro, substitui por um mais barato

O comércio d’outrora era diferente do praticado hoje, apesar de guardar o princípio de sempre – o da intermediação, que cabe na exata definição de comerciante: o que promove a intermediação dos bens entre o consumidor e o produtor, com o fito de lucro.

Na minha época de menino, havia o instrumento do “fiado”, a anotação em “caderneta” (espécie de cartão de crédito) das compras realizadas pelo cidadão sem dinheiro para pagamento à vista. “Quando o ordenado sair, passo a régua”, empenhava-se o devedor confesso. Lá a esposa pegava um pacote de sal, o filho pedia o pão, a secretária um molho de cheiro verde.

Tinha a figura do galego (ambulante), que vendia porta-a-porta “do penico à bateria de botar panela”, considerando os centros urbanos muito dispersos. Já então a gente se pelava de medo da carestia, como chamávamos a inflação. Quando o preço aumentava, o mascate dizia acabrunhado: “A miçanga e o papeiro subiram dois contos”; e haja o vendedor a explicar o porquê da majoração.

E o leiteiro? Deixava cedinho o pão e o leite na porta de casa, anotando o fiado para pagar no final da semana. Sem esquecer do troco dado em bombom... Quando dava fé, a conta estava lá em cima, perdia-se o controle, com a carestia arrepiando, inadimplência rolando.

Como não havia ainda o SPC, o que corria à boca miúda era o fulano de tal “escovado”, “velhaco”, “marreteiro” à espreita, ninguém se atrevendo mais vender pra ele. O SPC era algo assim, natural.

Não se ouvia falar do termo inflação, nada obstante o “aumento generalizado e contínuo dos preços, causando uma grande desvalorização do dinheiro e acentuada queda no poder aquisitivo da população”.

Aos poucos as pessoas foram se acostumando com ela. A esse respeito, afirmamos: a responsabilidade pela inflação alta não é do empresário, mas do poder público, que não tem o controle sobre seus gastos. O controle dos preços a sociedade faz; quando vê que o produto está caro, substitui por um mais barato, ou compra noutro fornecedor.

Nós, pais de família, temos um orçamento para prover os custos de casa, não podendo gastar mais do que ganhamos, sob pena de tomarmos dinheiro emprestado a uma taxa de juros altíssima, até virar uma bola de neve, qual ocorre atualmente.

Foto do Assis Cavalcante

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