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Um freio de arrumação na Política Externa Lula 3?
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Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição

Um freio de arrumação na Política Externa Lula 3?

Augusto W. M. Teixeira Júnior, doutor em Ciência Política (UFPE), professor do programa de pós-graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da UFPB e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Augusto W. M. Teixeira Júnior, doutor em Ciência Política (UFPE), professor do programa de pós-graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da UFPB e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição

Dois fatos recentes denotam um possível freio de arrumação na Política Externa do governo Lula 3. A nota do Itamaraty expondo preocupação acerca da lisura das eleições na Venezuela - apesar de branda e tardia - marca uma inflexão na forma na qual o governo Lula lida com a ditadura de Maduro. Longe da simplicidade dos memes que tomaram as redes, a vinda do presidente francês ao Brasil sinaliza o reforço de um importante alinhamento bilateral, mas que pode não ser um jogo de ganha-ganha.

Tendo como aspectos norteadores de sua Política Externa trinômio democracia, direitos humanos e meio ambiente, na prática, a ação internacional do Brasil sob Lula tem sido guiada pelo sabor do vento e da crise de ocasião. A questão ambiental, área em que o Brasil joga na primeira divisão, foi relegada em sua centralidade para uma atuação da diplomacia presidencial em questões como a guerra da Ucrânia e a guerra em Gaza. Nesse compasso, importantes derrotas para a Política Externa do país foram se somando. Entre elas, o fracasso em ressuscitar o regionalismo sul-americano sob a sua liderança somou-se ao fracasso no avanço do acordo Mercosul-União Europeia.

Diante disso, a nota do Itamaraty, endossada por Lula em falas posteriores, sinaliza uma possível mudança de tom em relação a Caracas. Ao reafirmar a importância do acordo de Barbados, Lula recoloca a ênfase na defesa da democracia como parte do norte de sua Política Externa. A visita de Macron ao Brasil apresenta resultados difusos. Se por um lado dá a impressão do reatamento de uma cooperação sólida entre Brasil e França, por outro, pode esconder uma parceria mais benéfica para Paris do que para Brasília. A França tem no Brasil um importante mercado e fornecedor de matérias-primas, inclusive a exploração de urânio. Contudo, a contrapartida para o Brasil - na transferência de tecnologia militar e investimentos em energia - são uma incógnita.

França sabe o que quer ao desembarcar no Brasil, mas saberá o Brasil o que quer da França? O que a atual administração deveria saber é que países não têm amigos, mas interesses. Ações na política internacional devem ser moduladas não sob a égide do prestígio de chefes de Estado de ocasião, mas tendo como norte o interesse nacional do país que representa. Ao menos, ainda estamos em tempo para um freio de arrumação. n

 

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