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As Eleições na Venezuela e o desafio para a política externa brasileira
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Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição

As Eleições na Venezuela e o desafio para a política externa brasileira

Imbuídos de uma orientação idealista das relações internacionais, o Brasil peca ao não sinalizar a Maduro que refreei nas ameaças contra a Guiana, adequando-se aos procedimentos democráticos acordados em fóruns e acordos prévios
Tipo Opinião
Augusto W. M. Teixeira Júnior, doutor em Ciência Política (UFPE), professor do programa de pós-graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da UFPB e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Augusto W. M. Teixeira Júnior, doutor em Ciência Política (UFPE), professor do programa de pós-graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da UFPB e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição

Em 28 de julho teremos eleições na Venezuela. Marcadas por elevado grau de ceticismo sobre a sua lisura, paira sobre a região a tensão de um possível agravamento da crise emanada de Caracas. Se vence Nícolas Maduro, torna-se ainda mais patente o caráter ditatorial do regime. Se vence a oposição a oposição, não se sabe como os militares e as milícias chavistas reagirão ao possível apeamento do poder. Em ambas os cenários, o risco de violência política é uma constante.

Apesar do público brasileiro julgar essa crise como distante de nós, ela nos afeta mais do que habitualmente imaginamos. Com o acirramento do colapso econômico do país em 2015, a Venezuela foi o epicentro da maior crise humanitária do continente, com milhares de seus cidadãos buscando refúgio em diversos países da região. Em resposta a esses efeitos, foi criada no Brasil a "Operação Acolhida" em 2017, a qual buscou retomar o controle do fluxo migratório na fronteira com a Venezuela e organizar a interiorização de seus nacionais no Brasil.

Mais recentemente, a crise econômica e migratória viu-se somada com a escalada de ameaças e movimentações militares ameaçando a invasão da vizinha Guiana. Buscando apoiar-se em um reclame territorial histórico - o Essequibo venezuelano - Maduro cria mais uma frente de instabilidade regional, com potenciais repercussões para a segurança e defesa do Brasil.

Em reação a esse movimento, a diplomacia e em particular a atuação do Assessor Especial para Relações Exteriores da Presidência da República do Brasil tem demonstrado não compreender a escalada qualitativa da situação de segurança na fronteira Norte do Brasil. Imbuídos de uma orientação idealista das relações internacionais, o Brasil tem pecado ao não sinalizar a Maduro que refreei em suas ameaças contra a Guiana, mas que se adeque aos procedimentos democráticos acordados em fóruns e acordos prévios. A comunicação política e diplomática para Caracas, além de tímida, não é lastreada em um poder militar crível.

Vale ressaltar que o governo Lula amarga prejuízo com o atual estágio de instabilidade no país vizinho. Apesar de a Venezuela estar suspensa do Mercosul por desrespeito à Clausula Democrática, o governo Lula investiu na normalização das relações com o país na região. Até o momento, o investimento não vingou e a fronteira Norte está em risco de vivenciar o aprofundamento da crise vigente. É hora de a ideologia ceder em prol do interesse nacional. O mundo mudou, tal como os custos de se apoiar apenas na diplomacia e nos bons ofícios.

 

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