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Outsiders, violência e política: democracia em crise
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Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição

Outsiders, violência e política: democracia em crise

O Brasil e boa parte do mundo ocidental vive uma onda de polarização política. Em cada sociedade, esse processo tem causas profundas. Contudo, um traço em comum: a crise da representação política nas democracias contemporâneas. Da eleição de Trump nos EUA, Boris Johnson no Reino Unido, Bolsonaro no Brasil e Modi na Índia, na última década distintas democracias elegeram representantes vistos como "outsiders" (fora da fauna política tradicional). Mas o que poderia ser percebido como algo positivo por pretensamente oxigenar o cenário político, consiste em um sintoma da crise das democracias.

A democracia funciona quando os pilares de representação política (participação) e contestação pública (oposição) são garantidos pelas leis e exercidos pelos cidadãos. O mecanismo que liga as regras eleitorais com a vontade popular são os partidos. Porém, em anos recentes há uma relativa normalização de candidaturas majoritárias de candidatos vistos como "outsiders", trazendo desafios à logica partidária de representação política. Por sua vez, o problema da normalização dos "outsiders" consiste em que a sua atuação é acompanhada pela negação das instituições e do sistema de regras vigentes. Não que aspectos dos sistemas políticos não mereçam críticas, mas a deslegitimação das instituições propicia um ambiente em que a política passa a não ser constrangida por regras, normas e valores. Assim, a violência - física e simbólica - como forma de fazer política ganha nova relevância.

Para além dos aspectos divisivos da polarização ideológica no Brasil, parecemos ter chegado a um estágio superior, da negação da política democrática institucional, em que ofensas à honra, o uso de informações falsas e a provocação à violência constituem instrumentos de disputa pelo poder. Eventos como a recente "cadeirada" de um candidato contra outro é um epifenômeno da crise da democracia brasileira. A crise se dá no seu sistema de representação e ilustra o esgarçamento do tecido político e social em que distintas elites não mais parecem compartilhar valores mínimos que disciplinam a competição política. Tendo 2024 como ensaio, é pertinente agir para evitar que as eleições de 2026 incorram nos mesmos perigos de hoje. Não obstante o aspecto cômico de certos eventos, caso essa marcha não seja contida, no final do túnel nos espera a tragédia. n

 

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