
Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição
Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição
O brasileiro médio está cansado de saber das interações entre o mundo da política e o mundo crime. Desde a primeira década dos anos 2000 até o tempo presente, escândalos de corrupção pairam o cenário nacional, maculando o sistema político e a sua credibilidade. Entretanto, 2024 e suas eleições apresentam um relevante alerta sobre a degradação desse problema na atualidade. A antiga conexão entre política e crime, notadamente as diversas formas corrupção, começa a evoluir para o acordo e acomodação entre agentes do sistema político e facções criminosas.
Em João Pessoa, capital da Paraíba, as eleições foram marcadas por dois aspectos quase paradoxais. Primeiramente, o fato de que o prefeito que busca reeleição liderar em diversas pesquisa e quase vencer no primeiro turno. Segundo, mais importante, foi o cerco da Polícia Federal a pessoas próximas do prefeito, inclusive com a decretação da prisão da primeira-dama da capital, solta pouco depois. O que se notabilizou nesse caso não foi apenas a relação entre agentes públicos e políticos com facções do crime organizado local, mas sim proveito que estes proporcionam à luz da governança criminal de regiões da periferia, onde o tráfico é a lei.
A acusação que pesa contra atores próximos ao prefeito dá conta de que haveria uma articulação entre líderes comunitários, faccionados e políticos em exercício do mandato, eletivo ou comissionado. A troca de fatores consistiria em apoio eleitoral de comunidades, somada a restrição de campanha por parte de candidatos concorrentes; tudo isso em troca de cargos no Executivo municipal. Observe que esta prática, tão antiga quanto o primeiro voto no Brasil, consiste em uma evolução do antigo voto de cabresto, só que agora na ausência dos antigos coronéis, temos lideranças ligadas a facções criminosas. Longe de ser um evento isolado, o caso da cidade de João Pessoa se repete em diversas cidades do país, onde a contaminação e acomodação com o crime organizado e facções criminosas se dá em distintas esferas do Poder Executivo e Legislativo, com interações com agentes do Poder Judiciário.
Em síntese, o que o caso de João Pessoa ilustra é uma perigosa ameaça à democracia, liberdade e segurança do povo brasileira. A infiltração do crime organizado nas eleições e na política poderá destruir a democracia e suas instituições por dentro. Esse fenômeno pode se agravar ao passo que poderá possuir uma agenda política própria, ao invés de apenas se apoiar na política para finalidades econômicas. O mais importante a se constatar é que casos como o de João Pessoa deixam claro que o que vivemos não é apenas uma dinâmica criminal que ameaça a democracia, mas aquilo que alguns chamam de insurgência criminal. Sem aceitar essa realidade não poderemos pensar em como vencer.
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