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Trump venceu, mas e daí para o Brasil?
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Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição

Trump venceu, mas e daí para o Brasil?

O retorno de Trump ao poder poderá ter efeitos contraditórios para agendas internacionais do Brasil no governo Lula 3. Possivelmente, contribuirá para o fim da guerra russo-ucraniana. Por outro lado, pode aumentar a liberdade de ação de Israel contra o Irã
Augusto W. M. Teixeira Júnior, doutor em Ciência Política (UFPE), professor do programa de pós-graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da UFPB e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Augusto W. M. Teixeira Júnior, doutor em Ciência Política (UFPE), professor do programa de pós-graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da UFPB e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição

Em 6 de novembro o mundo foi apresentado ao novo presidente dos Estados Unidos: Donald J. Trump. Trump deverá retornar ao poder em bases mais robustas do que em seu primeiro mandato. Além da experiência administrativa, agora contará com o respaldo não apenas do colégio eleitoral, mas também com a legitimidade de ter vencido no voto popular. A isso se adiciona a tendência de maioria Republicana nas duas casas legislativas e na Suprema Corte. Mas tão importante é que agora Trump possui ao seu dispor de uma agenda estruturada sob a liderança de importantes Think Tanks, como a Heritage Foundation. Diante desse quadro, quais desafios poderá o Brasil enfrentar?

No campo da política doméstica, a vitória de Trump legitima uma direita de caráter iliberal, com respaldo institucional e majoritário na principal democracia do mundo e isso tem um efeito pedagógico global. A vitória de Trump foi saudada por expoentes da direita europeia, como Orbán na Hungria e Meloni na Itália. No Brasil, Jair Bolsonaro já busca se alicerçar nesse fato político para mudar a sua condição de inelegível.

No âmbito internacional, o êxito de Trump deve acelerar o processo de erosão da ordem liberal erigida pelos Estados. Em particular, o multilateralismo e suas instituições, como o Conselho de Segurança das Nações Unidas e a Organização Mundial do Comércio tenderão a continuar a perder força. Para o Brasil, esse fenômeno fere profundamente a estratégia de inserção internacional da política externa em que a participação e atuação no multilateralismo global é percebido como uma forma de afetar o sistema internacional em busca de interesses nacionais.

Por fim, o retorno de Donald J. Trump ao poder poderá ter efeitos contraditórios para agendas internacionais do Brasil no governo Lula 3. Possivelmente, Trump poderá contribuir para o fim da guerra russo-ucraniana, algo que o Brasil sob Lula busca influir. Por outro lado, Trump poderá aumentar a liberdade de ação de Israel contra o Irã, dificultando o entendimento brasileiro em relação às guerras da região. Em termos estruturais, o saldo poderá ser mais negativo em três agendas cruciais para o Brasil: a questão climática-ambiental deverá perder tração pelo desengajamento dos EUA; a defesa da democracia poderá perder o ímpeto dado por Biden e reverberado por Lula e por fim, mas não menos importante, o tensionamento entre EUA e China poderá trazer dilemas decisórios importantes para Brasília. Diante desse cenário, como um Brasil em constante crise política, polarização e dificuldade econômica navegará em águas tempestuosas?

 

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