Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição
Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição
No final de janeiro de 2025, o mundo foi sacudido com a notícia de que a China conseguiu desenvolver uma inteligência artificial mais rápida e mais barata do que as principais concorrentes ocidentais, em particular o ChatGPT. O que poderia ser apenas uma manchete de destaque nos jornais de tecnologia, na prática, colapsou o valor de mercado de empresas como a NVIDIA, gigante produtora de chips.
Mais do que um reflexo da corrida tecnológica vivenciada nas últimas décadas entre China e Estados Unidos, o terremoto no setor financeiro e tecnológico é, na verdade, um produto de uma disputa geopolítica mais ampla.
Se, nos últimos 50 anos, a popularização do computador pessoal, da internet e dos smartphones alterou a forma como consumimos, nos comunicamos e vivemos, o advento da inteligência artificial (IA) é percebido como a próxima fronteira desse admirável mundo novo. Desde a automação de chatbots para marcação de consultas até o uso da IA em guerras, como na Ucrânia e em Gaza, a inteligência artificial está transformando o mundo em que vivemos. Se isso é verdade, quem controla essas tecnologias não apenas possui uma vantagem estratégica e competitiva, mas também tem o poder de influenciar os rumos do futuro.
Ademais, a liderança no setor tecnológico, especialmente em áreas como robótica e inteligência artificial, está atrelada a ganhos de mercado expressivos. Imagine quantas toneladas de minério de ferro são necessárias para adquirir um chip moderno da NVIDIA. Quantas toneladas de soja são necessárias para equiparar-se ao valor de um pacote de software de inteligência artificial?
Para além dos ganhos econômicos, a dominância nesses setores coloca aqueles que os lideram em uma posição estratégica para impulsionar seus interesses. O Brasil, em anos recentes, vivenciou essa realidade de forma nítida durante o leilão do 5G, no qual os Estados Unidos se opuseram à participação da gigante chinesa Huawei.
Como se percebe, a inteligência artificial e outros avanços tecnológicos, além de impactarem os mercados, influenciam a geopolítica e o futuro das nações, incluindo o Brasil. Em um mundo cada vez mais conflituoso, marcado pela crise da globalização e do multilateralismo, a liderança tecnológica tornou-se um ativo fundamental para a segurança nacional e a autonomia dos países.
Diante desses desafios, qual é o estado do debate nacional sobre o posicionamento do Brasil nesse novo cenário? Não sairemos do limbo da desindustrialização sem acordos mínimos entre Executivo e Legislativo, da mesma forma que não avançaremos alimentando lobbies pouco inovadores. Se continuarmos deitados em berço esplêndido, poderemos um dia despertar para o pesadelo dos custos do atraso.
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