
Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição
Augusto W. M. Teixeira Júnior é cientista político, professor do Programa de Pós-Graduação em Ciência Política e Relações Internacionais da Universidade Federal da Paraíba (UFPB) e do Departamento de Relações Internacionais da mesma instituição
Na madrugada de segunda-feira (21/04/2025), faleceu o Papa Francisco, o primeiro latino-americano a ser alçado à condição de líder da Igreja Católica. Embora o reconhecimento e o legado deixado nos assuntos internos à Igreja sejam alguns dos tópicos mais discutidos nas últimas semanas, o Papa Francisco foi também um importante personagem da geopolítica. Muitas vezes esquecemos, mas um Papa é, além de líder da Igreja Católica Apostólica Romana, chefe de Estado do Vaticano.
Sua liderança, para além das questões éticas e morais religiosas, transborda para temas mundanos, como a guerra, a violência e outras manifestações das disputas de poder na política internacional contemporânea. Três exemplos ilustram com clareza esse argumento.
Desde o início da invasão da Rússia à Ucrânia, em 2022, o Papa condenou o uso da força militar russa contra o país vizinho, pedindo o fim das hostilidades. Apesar de autoridades ucranianas considerarem brandas as reprimendas do Sumo Pontífice, a voz de Francisco fortaleceu o coro de líderes internacionais que condenam a guerra e deram voz ao sofrimento humano por ela causado.
Um segundo, e talvez mais sintomático, exemplo dessa atuação do Papa na geopolítica contemporânea foi sua constante preocupação com a guerra em Gaza. Condenando fortemente as ações do Hamas no atentado terrorista de 7 de outubro de 2023, não se furtou a pedir pelo fim das hostilidades e pela proteção de civis durante o conflito que se seguiu. Profundamente simbólica do papel político e religioso de Francisco foi sua comunicação direta e contínua com as comunidades católicas em Gaza.
Por fim, um terceiro exemplo dessa atuação foi a firme posição do Papa Francisco em defesa dos imigrantes, especialmente diante da onda anti-imigração na Europa e, em particular, nos Estados Unidos após a posse de Donald Trump. Trazendo ao debate sua história pessoal e os postulados cristãos, o Papa enfatizou a importância de colocar o ser humano no centro das decisões. Sua postura pública chegou a confrontar diretamente posições assumidas pelo vice-presidente dos EUA, JD Vance, ele mesmo um católico declarado.
Como podemos observar, o papado — além de uma missão de ordem espiritual — pode exercer uma força e uma atuação política ímpares. Ao partir deste mundo, o Papa Francisco relembra a fiéis e admiradores essa lição, deixando não apenas dúvidas sobre o futuro de sua Igreja, mas também sobre o papel que ela continuará a exercer em um mundo em ebulição.
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