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Aeris demite mais 700 funcionários no Ceará e pede mais prazo para pagar dívidas
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Jornalista formada em Comunicação Social pela Universidade Federal do Ceará (UFC). É editora digital de Economia do O POVO, onde começou em 2014. Atualmente, cursa MBA em Gestão de Negócios e está andamento de Certificação Internacional em Marketing Digital pela ESPM

Aeris demite mais 700 funcionários no Ceará e pede mais prazo para pagar dívidas

Somente no primeiro semestre de 2024, 1.947 demissões foram realizadas pela fabricante de pás eólicas
Aeris Energy pode atuar com o H2V futuramente por meio da fabricação de componentes na indústria
Foto: Davi Capistrano/Acervo Aeris Energy Aeris Energy pode atuar com o H2V futuramente por meio da fabricação de componentes na indústria "offshore".

A coluna apurou que a Aeris Energy, localizada no Ceará, está realizando novas demissões nesta sexta-feira, 7 de fevereiro, e disponibilizando cerca de 10 ônibus para o retorno dos demitidos. O Sindicato dos Metalúrgicos (Sindmetal) no Ceará informou que são 700 funcionários. 

Além disso, a empresa lançou fato relevante no mercado pedindo novamente para realizar renegociação de prazos com credores.

No primeiro semestre de 2024, 1.947 demissões foram realizadas pela fabricante de pás eólicas com duas plantas no Complexo Industrial e Portuário do Pecém (Cipp).

Somente no mês de maio do ano passado, a empresa demitiu cerca de 1.500 funcionários, em decorrência do encerramento de contrato com a Siemens Gamesa. À época, o grupo comunicou que estava confiante no setor de energia eólica no longo prazo. 

Com apenas um cliente, um dos motivos pelos quais a agência global de classificação de risco Fitch Ratings rebaixou a nota da empresa, a busca principal é por cortar cargos com salários mais altos, conforme as informações apuradas.

O movimento representa fator de desconfiança em relação aos negócios para o mercado.

A quantidade de demitidos não foi informada ainda pela empresa após ser procurada. 

Porém, em nota à coluna, a Aeris frisa que reconhece o momento atual para o mercado de energia eólica no Brasil como "desafiador e bastante complexo".

"Mas acreditamos nas perspectivas positivas de futuro, dados os compromissos de descarbonização que estão sendo firmados em todo o mundo", complementou.

Com relação ao cenário de curto prazo, o grupo acrescenta que para buscar mais eficiência operacional, fizeram "diversos ajustes" na estrutura.

"Dessa forma, a adequação no quadro de colaboradores é decorrente da perda de demandas por consequência da atual situação do mercado. Ainda assim, cabe ressaltar que seguimos entre as maiores empresas empregadoras do Ceará."

"Apesar do momento delicado, reforçamos que – de forma recíproca - seguimos contando com a força da comunidade local e de todos os agentes que integram o ecossistema do qual pertencemos, incluindo os representantes do Estado do Ceará, para promover desenvolvimento em suas diversas frentes", segue em comunicado.

"Conscientes de que estamos diante de um grande desafio e apostando nas perspectivas de longo prazo, gostaríamos de reassumir nosso compromisso de fortalecer a indústria nacional, contribuir com a criação de políticas públicas que impulsionem o desenvolvimento e a sustentabilidade de toda a cadeia de energia renovável no País, sobretudo apoiando o pleno desenvolvimento socioeconômico do Ceará", concluíram. 

Negociação da Aeris por mais prazo para pagar dívida

Sobre a renegociação, é a segunda vez que a companhia com sede no Ceará realiza esse movimento. No fato relevante desta sexta-feira, 7, a Aeris comunica a convocação de assembleias gerais de debenturistas.

As assembleias visam deliberar sobre a alteração do prazo de vigência das debêntures para 2030, mudanças no cronograma de amortização e nos juros, bem como a inclusão de hipóteses de resgate antecipado.

No caso das debêntures da 1ª emissão, será discutida uma prorrogação dos prazos para amortização e pagamento de juros.

A convocação se insere no contexto de negociações com credores para otimizar a estrutura de capital da empresa e sua situação financeira. 

Em suma, a Aeris está renegociando sua dívida com os investidores porque precisa de mais prazo para cumprir seus compromissos financeiros.

Para os debenturistas, o pleito pode representar um risco adicional, pois eles terão que esperar mais tempo para receber os pagamentos previstos.

A proposta é que as dívidas de primeira emissão sejam prorrogadas por até 30 dias.

Além disso, pedem extensão do prazo de vencimento para 2030, além de alterações no cronograma de amortização e juros.

Ainda discutem a mudança nas regras para a possibilidade de resgate antecipado pelos credores. (Com Armando de Oliveira Lima e Ana Luiza Serrão)

Como foi a primeira renegociação de dívidas

Na primeira negociação, a Aeris fez acordos de renegociação, denominados standtill, junto a instituições financeiras credoras e a aprovação dos debenturistas para postergar o pagamento da primeira emissão de debêntures até 28 de fevereiro.

A empresa inclusive já havia conseguido junto aos seus debenturistas um acordo para adiar em até 60 dias o pagamento de juros remuneratórios e amortização, conforme O POVO noticiou no dia 9 de janeiro.

O movimento estava sendo discutido, também, com bancos credores. Na prática, houve a suspensão do vencimento ou de ações de cobrança no período estipulado, isto é, até o início do mês de março.

Entre os representantes dos debenturistas que votaram favoravelmente ao acordo na Assembleia Geral realizada na quarta-feira, 8 de janeiro, estão as gestoras Itaú Asset, XP Vista, JGP, Icatu Vanguarda, Galápagos e Exploritas.

O documento estabeleceu, todavia, que um novo acordo de confidencialidade até o dia 20 de janeiro. Além disso, deveria haver a obtenção do standstill junto ao Santander, Banco do Brasil e Votorantim nas mesmas condições.

A Aeris não deve dar novas garantias a terceiros até o dia 28 de fevereiro, de acordo com determinação da Assembleia. O objetivo é que a empresa ganhe tempo antes de realizar os pagamentos.

"As deliberações da presente AGD (assembleia) são tomadas por mera liberalidade dos debenturistas e não impedem, restringem e/ou limitam o exercício, pelos debenturistas, de quaisquer direitos pactuados na Escritura de Emissão", esclareceu em comunicado.

O que vem acontecendo com a Aeris Energy?

A Fitch, inclusive, alertou o mercado financeiro sobre indícios de um processo semelhante à inadimplência nas renegociações de dívidas da fabricante cearense de pás eólicas Aeris Energy, rebaixando sua classificação.

A Fitch removeu a observação negativa e rebaixou de "BBB(bra)" para "C(bra)" os ratings nacionais de longo prazo da Aeris e de suas primeira e segunda emissões de debêntures quirografárias "Debêntures que não precisam de garantia"  no mercado financeiro.

Os debêntures são uma forma de investimento em que uma empresa emite títulos de dívida para captar recursos. Quem compra debênture está, na prática, "emprestando" dinheiro para a empresa e, em troca, receberá o valor investido com juros.

Aeris possui apenas um cliente

Atualmente, a Aeris possui apenas um cliente, o que representa um fator de risco para os seus negócios, segundo a Fitch.

"A empresa vivencia uma queda nos projetos de geração eólica no País, com consequente saída ou encerramento de atividade dos fabricantes de aerogeradores que utilizavam suas pás", detalhou.

A Fitch indicou que a empresa iniciou conversas para a reestruturação das dívidas. A agência vê estresse no desempenho, com a menor demanda por pás de rotores de aerogeradores tanto no Brasil quanto no mundo.

Essas informações foram divulgadas pela Aeris na Comissão de Valores Mobiliários (CVM) na noite de quinta-feira, 16.

Ociosidade produtiva

A Fitch vê a Aeris com elevada ociosidade da capacidade produtiva e projeta uma receita líquida aproximada de R$ 1,7 bilhão em 2024. Para 2025, R$ 823 milhões.

A produção de pás ficaria em 1,7 gigawatt (GW) no ano passado e em 813 megawatt (MW) neste ano. Já a geração de caixa deve ficar pressionada com as menores vendas em 2025.

Um dos principais indicadores financeiros, o lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização (Ebitda) da Aeris deve ser de R$ 50 milhões em 2025. Em 2024, o indicador previsto é de R$ 180 milhões.

"A redução da atividade em 2025 aliviará as pressões no fluxo de caixa, enquanto o de 2024 foi impactado pela devolução de antecipações de clientes", detalhou a Fitch.

A perspectiva da agência é de que a Aeris registre um fluxo de caixa das operações (CFFO, em inglês) negativo em R$ 439 milhões e um fluxo de caixa livre (FCF, em inglês) negativo em R$ 530 milhões em 2024.

Para 2025, deve haver leve recuperação, com CFFO positivo em R$ 5 milhões. Porém, o FCF deve permanecer negativo em R$ 21 milhões.

Os números refletem a pressão financeira enfrentada pela empresa em meio à redução das atividades e da renegociação das dívidas.

Aeris à venda?

A coluna Radar Econômico, da Veja, divulgou, na manhã de quinta-feira, 9 de janeiro, que a fabricante de pás eólicas chinesa Sinoma Blade está perto de comprar a Aeris, em uma oferta acima de R$ 20 por ação.

Segundo a coluna, a família Negrão, controladora da Aeris, deve aceitar a proposta. Isso porque o preço da ação está superior a cotação atual e o setor enfrenta desafios no Brasil.

A Aeris está renegociando sua dívida com os investidores porque precisa de mais prazo para cumprir seus compromissos financeiros. Essa movimentação pode indicar dificuldades de caixa ou uma estratégia para reequilibrar suas finanças e evitar problemas maiores no futuro. Para os debenturistas, pode representar um risco adicional, pois eles terão que esperar mais tempo para receber os pagamentos previstos. (Colaborou Ana Luiza Serrão)

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