Pneu tem validade? Fábricas ficam em cima do muro!
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Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN
Foto: JÚLIO CAESAR/ O POVO
O correto é substituir o pneu entre cinco a seis anos de fabricação (a data está na banda lateral)
Pneu tem validade sim, embora o assunto seja extremamente controverso e nem os fabricantes sejam assertivos quando consultados.
Vamos começar pelo que diz a associação das fábricas de pneumáticos:
“A ANIP esclarece que pneus não têm prazo de validade, mas sim garantia contratual oferecida pelos fabricantes. A garantia normalmente é de cinco anos, a partir da data de compra do pneu ou do veículo novo”.
Ora, ninguém perguntou por garantia, até porque, no pneu, ela é problemática e a fábrica raramente reconhece problema. Além disso, o critério é variável: os cinco anos garantidos pelo fabricante contam a partir de sua fabricação ou da compra na loja. Nesta, se o pneu ficou estocado por dois ou três anos e a fábrica concede outros cinco, a garantia passa a valer então por um prazo maior, de 7 a 8 anos desde que foi fabricado.
E como saber a data de produção? Na banda lateral do pneu, tem a inscrição DOT seguida de quatro dígitos. Exemplo: 3221. Significa que foi produzido na 32ª semana de 2021. Neste caso, a garantia valeria até 2026. Mas, se foi adquirido em 2024 (e o cliente tem a nota), a fábrica o garantiria até 2029. Então, o pneu valeria por oito anos!
A rigor, o pneu mantem todas suas características originais por cinco anos, independentemente de estar rodando no carro, como estepe no porta-malas ou estocado na loja. Pois há uma degradação natural do composto de borracha que se oxida em contato com o oxigênio.
Mas há um consenso de que, nos cinco anos seguintes (até 10 de fabricação), o pneu pode ser utilizado sem riscos à segurança. Entretanto, mesmo estando (aparentemente) em boas condições, a borracha vai se ressecando e podem aparecer, no fundo do sulco ou na lateral, pequenas fissuras às vezes visíveis apenas com uma lente.
Então, o perigo é utilizar o pneu depois de dez anos de fabricação, ainda que esteja novo, sem uso. É muitas vezes o caso do estepe, guardado por todo este tempo. Aliás, não é só pneu: quantos remédios que ficaram no armário são jogados fora depois de expirado o prazo?
É perfeitamente compreensível que os fabricantes sejam subjetivos quando consultados sobre a validade, pois esta depende das condições de uso: peso, calibragem, tipo de piso, alinhamento, balanceamento, velocidade em retas e curvas, tipo de composto e outros. Um mesmo pneu pode durar sete anos num carro, apenas três em outro.
Talvez o pneu mais caro do mundo, o que equipa os carros da F1, não dura mais que uma hora...
Depois dos dez anos de fabricação, surgem fissuras nem sempre visíveis a olho nu. Se o carro roda devagar, o risco é menor. Entretanto, em velocidade maiores, nas estradas por exemplo, com forças mecânicas atuantes, agravadas pela temperatura que se eleva muitos graus, o pneu se rompe (“estoura”). Com consequências que podem ser graves exatamente pela velocidade elevada.
No frigir dos ovos, mesmo que os fabricantes e sua associação (ANIP) fiquem em cima do muro e nada afirmem com clareza e objetividade, os pneus têm sim, prazo de validade. O consenso entre especialistas e engenheiros é:
- Nos primeiros cinco anos de fabricação, o pneu conserva suas características originais de aderência, ruido, etc;
- Nos cinco anos seguintes, ele perde parte delas mas ainda é possível rodar sem riscos de se romper;
- Depois de dez anos de fabricação, lixo!
Então, a rigor, quando a ANIP afirma que o pneu não tem “prazo de validade”, há um sentido duplo: não ter “prazo de validade” significa que pode durar três ou nove anos. Ou seja, num prazo incerto.
Ou não ter “prazo de validade” significa que pode durar – desde que bem conservado - eternamente?
Neste segundo caso, eu faço uma sugestão aos diretores da ANIP: rodar numa estrada, a 100 km/h, num automóvel com pneus fabricados há 30 anos....
Mais Boris? autopapo.com.br
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