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Jim Farley, CEO da Ford, perdeu o sono depois de visitar a China
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Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN

Jim Farley, CEO da Ford, perdeu o sono depois de visitar a China

Principal executivo da marca do oval voltou a Dearborn (Michigan) impressionado com a superioridade dos elétricos chineses
Tipo Opinião
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Foto: Ford / Divulgação Jim Farley, o "chefão" da montadora norte-americana

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Jim Farley foi à China conhecer os automóveis elétricos que ameaçam o mundo e voltou até com preocupações existenciais em relação à sua empresa. Ou de toda a indústria automobilística ocidental... O que tirou o sono de Mr. Farley foi a extrema qualidade dos carros chineses, especialmente a tecnologia dos elétricos. “São melhores que os nossos” foi seu comentário ao voltar a Dearborn. Ele dirigiu um automóvel da estatal Changan (não foi divulgado qual deles) tendo seu diretor financeiro, John Lawler, como passageiro. (A chinesa é parceira da Ford há muitos anos e já esteve no Brasil quando ainda se chamava Chana). CEO e CFO se impressionaram com a dirigibilidade e o silencio do carro.

De volta aos EUA, ele pediu a importação de meia dúzia de carros chineses da Changan e outras marcas (inclusive o Xiaomi SU7) para que o conselho e a diretoria da Ford também percebessem a qualidade destes asiáticos. Mais sono perdido...

O que Farley não sabe - ou pelo menos não comentou - foi o motivo de os carros chineses terem virado a chave tão rapidamente, pois não transmitiam a menor confiança há cerca de dez anos. Os primeiros que desembarcaram no Brasil na década de 2010 chegaram a ser ridicularizados tão baixa sua qualidade. E ainda ostentavam o nada honroso título de “estilo xerox” pois vários deles eram cópia escarrada e descarada de veículos europeus. No Brasil por exemplo, foi comercializado o Lifan 320, idêntico ao inglês Mini Cooper. A importadora até brincou ao expor o carro no Salão do Automóvel de São Paulo com um sósia de Mr Bean...

Na verdade, não foram só os chineses, mas uma constante entre os asiáticos: os primeiros modelos exportados pelo Japão entre 1980 e 1990 também deixavam a desejar, até que sua qualidade ganhou excelência e se tornou padrão mundial. Uma década depois, na virada do século, foi a vez dos sul-coreanos se tornarem big-players do setor. Mas, se Kia e Hyundai tinham qualidade duvidosa no inicio, também viraram a chave alguns anos depois e oferecem hoje qualidade internacional. Seu projeto de eletrificação está entre os mais avançados do mundo.

Os chineses também começaram mal e “adotaram” a estratégia do estilo CC (“copia-carbono”) dos japoneses, além da baixa qualidade dos produtos. Adotar a politica de fornecedores internacionais de alto padrão foi seu primeiro passo para subir a régua. Mas a tacada mais certeira foi contratar, na Alemanha, para consultor do Ministério da Industria e Comercio, um diretor da Audi. Que analisou a indústria chinesa e fez a seguinte recomendação ao governo: “Sua indústria está uma geração atrasada em relação aos ocidentais. E cada passo que vocês derem, eles terão evoluído também. Minha sugestão é de desenvolver agora uma pesada tecnologia dos elétricos – ainda muito lenta e incipiente no Ocidente – e saírem assim na frente de toda a indústria mundial.

O resultado está aí incomodando o mundo e a supremacia da tecnologia chinesa dos elétricos é indiscutível. A ponto de provocar insônia no CEO da poderosa Ford. Que aproveitou as noites mal dormidas para acelerar seus projetos de eletrificação, que vinham caminhando em marcha lenta. Tanto que Farley iria lançar um elétrico barato (US$ 30 mil) para competir com os chineses, mas está repensando toda a sua estratégia. Inclusive a de só oferecer elétricos na Europa até 2030, pois eletrificação não significa apenas carros à bateria, mas também os híbridos.

Corre uma lenda de que Enzo Ferrari teria tirado o chapéu pela admiração por Henry Ford. Chegou a hora de a Ford tirar o chapéu para a indústria chinesa...

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