Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN
A virada da combustão para o elétrico foi mais rápida que o avanço tecnológico, principalmente das baterias
Carro elétrico provocou completa disruptura na indústria automobilística. “Big-shots” das maiores empresas do setor estão em dificuldades para estabelecer prioridades e tomar decisões objetivas pois seus clientes estão igualmente atônitos diante desta rápida e inesperada transformação dos automóveis.
Na Europa, a Porsche anuncia esticar o prazo para encerrar a produção de motores a combustão pois suas vendas de elétricos estão em queda livre. As montadoras que haviam anunciado a virada de chave para produção exclusiva de elétricos, mudaram de ideia e reconsideraram a possibilidade de desenvolver também os híbridos.
Em alguns países, como na Alemanha, o fim dos subsídios aos carros a bateria foi fatal. Alguns dos europeus chegaram a anunciar que emplacariam exclusivamente carros a bateria a partir de 2030, mas já esticaram o prazo para 2035. A Volvo está num impasse sem saber como orientar sua produção até 2030.
A Comunidade Europeia complicou a vida dos chineses pois comprovou subsídios do governo a algumas de suas marcas e estabeleceu super tarifas de 18,8% para a Geely, 17% para a BYD e a SAIC com 35,3%. Previsões para vendas de elétricos puros na Europa em 2025 caíram de 27% para prováveis 21%. A revisão foi consequência da queda de demanda global dos elétricos.
GM forçada a retroceder
Nos Estados Unidos, a situação não difere muito. Mary Barra, a CEO global da GM, tinha decidido (2022) migrar direto da combustão para a bateria, sem passar pelo hibrido. Mas mudou de ideia ao receber carta assinada por seus principais concessionários nos EUA ameaçando devolver a bandeira se a empresa não garantisse desenvolver “o que os clientes querem: híbridos”.
Joe Biden estabeleceu impostos de 100% para barrar os chineses. E o Canadá foi atrás. A Fisker, nova marca norte-americana que só produzia SUVs elétricos, faliu em junho deste ano. Pesa também na balança o fim do subsidio anunciado por Trump para o carro elétrico e estímulo ao motor a combustão. São vários os motivos que explicam o fim da euforia do consumidor com o elétrico:
Custo elevado;
Alcance (autonomia) e durabilidade limitadas;
Pontos de recarga insuficientes;
Fantasma da pane seca;
Perde alcance nas variações mais drásticas de temperaturas;
Desvalorização do usado;
Assistência técnica deficiente.
Hibrido, melhor que elétrico
Estes fatores foram uma ducha de água fria no entusiasmo pelo elétrico puro e consequente migração para o híbrido. Que tem bateria menor e por isso mais leve e barato. E contempla igualmente a redução de emissões pois já roda mais de 100 km eletricamente, sem o fantasma da pane seca pois se movimenta também com gasolina. Por isso, está se tornando numa excelente alternativaenergética em todo o mundo.
A Toyota, por exemplo, acreditou há mais de vinte anos nesta solução e lançou o pioneiro Prius. Mas reluta com o elétrico puro.
A Nissan vinha mantendo praticamente só modelos a combustão ou elétricos. A falta de híbridos foi apontada como uma das causas de estar à beira da falência. Situação só resolvida com a já anunciada fusão com a Honda.
No Brasil, as fábricas investem apenas nos híbridos: a Toyota com a linha Corolla. A Stellantis já lançou o “híbrido-leve” (MHEV) nos Fiat Pulse e Fastback. E virão outros modelos híbridos puros (HEV) e híbridos plug-in (PHEV). Várias outras prometeram híbridos a partir deste ano.
A McKinsey realizou uma pesquisa nos EUA com proprietários de carros elétricos. E o resultado é que mais de 40% deles voltarão para a combustão em sua próxima troca.
Outras pesquisas apontam que 50% de quem vendeu seu elétrico passou para um hibrido. Outros 20% voltam para a combustão e somente 30% permanecem com o carro a bateria.
Por outro lado, esta situação pode ser revertida pois várias fábricas anunciaram para os próximos três a cinco anos o lançamento da bateria BSS (solid state), que substitui o eletrólito líquido (ou gel) pelo sólido.
Ela é incomparavelmente mais eficiente que a de ion-litio por ter maior durabilidade e densidade energética, recarga mais rápida, várias formatações possíveis (pois não vaza), resiste melhor às variações de temperatura e é menos nociva ao meio ambiente pois sua produção exige volume muito menor de cobalto e grafite.
No frigir dos ovos, o problema mais relevante do elétrico é a bateria, que ainda tem custo e alcance (autonomia) elevados, vida útil limitada, infraestrutura de pontos de recarga e sensível a variações de temperatura. A bateria de “estado sólido” ameniza a totalidade dos fatores negativos que dificultam a vida do carro elétrico e poderá significar sua viabilidade a médio prazo.
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