Gasolina E30: boa para o meio ambiente, mas acendeu a luz amarela
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Boris Feldman é mineiro, formado em Engenharia e Comunicação. Foi engenheiro da fábrica de peças para motores Metal Leve e editor de diversos cadernos de automóveis. Escreve a coluna sobre o setor automotivo no O POVO e em diversos outros jornais pelo país. Também possui quadro sobre veículos na rádio O POVO/CBN
Se você tem carro flex (absoluta maioria da frota nacional), o aumento do percentual de etanol na gasolina de 27% para 30%, anunciado pelo governo, não muda o funcionamento do motor. Aliás, automóveis flex nem foram testados, pois foram projetados para qualquer percentual de etanol. A dúvida está no comportamento do motor que só queima gasolina.
1. Os estudos para o novo percentual de etanol foram conduzidos pelo Instituto Mauá de Tecnologia (SP) que o elevou – nos testes - para 32% (1% acima da tolerância oficial) e os motores mais modernos, com injeção eletrônica, não apresentaram nenhum problema;
2. Mas as motocicletas testadas com o E32, segundo a Abraciclo, entidade que representa o setor de duas rodas e acompanhou os testes, “a avaliação dos resultados e ensaios indicaram pontos de atenção”. A entidade não detalhou o problema encontrado, mas sabe-se que algumas motos apresentaram dificuldade no arranque a frio.
3. Além das motos, rodam ainda milhões de carros mais velhinhos produzidos antes de 2003 (início do flex) com motores a gasolina. E desprovidos da central eletrônica capaz de adequá-los a percentuais variáveis de etanol.
4. A gasolina do tipo premium continuará recebendo apenas 25% de etanol. Boa notícia para quem tem automóveis importados. Mas, nada boa para quem tem motos e carros nacionais mais idosos, pois ela chega a custar 50% mais que a comum/aditivada.
5. O ministro Alexandre Silveira (MME), ao anunciar que o governo vai encaminhar à CNPE (Comissão Nacional de Política Energética) a proposta de aumento do percentual, frisou que a nova mistura terá seu preço reduzido na bomba, pois o álcool é mais barato. Novidade no nosso histórico de combustíveis, pois no passado, acréscimo do etanol jamais reduziu – como deveria - o preço da gasolina no posto.
6. Os problemas detectados nos testes acenderam uma luz amarela que recomenda extrema cautela para percentuais ainda mais elevados de etanol. A Lei do Combustível do Futuro prevê 35%. Mas, o teor de álcool é limitado pela relação estequiométrica da combustão (relação ar/combustível). O que torna impossível aumentar indefinidamente este percentual.
7. No frigir dos ovos, nada muda para quem tem carros importados e que já abastece com a premium. Mas vai complicar a vida de quem roda com carros mais idosos e a maioria das motos.
8. O foco energético do governo brasileiro deveria se concentrar no etanol, que vem sendo subutilizado nos motores flex (apenas 30% deles são abastecidos com o derivado da cana). E um dos caminhos viáveis é estimular o motor a álcool pela tributação. Vários já estão prontos nas fábricas. Stellantis entre elas e até a Cummins, que transformou um motor diesel para queimar etanol.
10. Sopa no mel seria incentivar um híbrido bem brasileiro, que teria um motor a bateria e outro a combustão queimando apenas etanol. Uma motorização com emissões de CO2 (efeito estufa) inferiores até que o próprio carro elétrico.
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