
Carlos Viana é jornalista da área de Opinião do O POVO. Atua também na rádio O POVO/CBN com uma coluna semanal na área de inclusão
Carlos Viana é jornalista da área de Opinião do O POVO. Atua também na rádio O POVO/CBN com uma coluna semanal na área de inclusão
Querido Zezinho,
O tempo que passamos juntos foi tão pouco, e tão intenso. Você chegou em nossas vidas num momento completamente inesperado. Pouco tempo após a morte do meu pai, minha mãe, sentindo-se sozinha, resolveu adotar um cachorro. E lá vem você, um cachorro chiquetoso, nascido em uma barraca de praia. Quem diria, né, um safado como você, nasceu na praia!
Eu lembro com carinho do dia que nos conhecemos. Você era um filhotinho bastante tímido. Lembra que tu ficava escondidinho entre o botijão de gás e a parede, com medo de todo mundo? Eu te peguei, levei para onde estávamos, mas você, tímido, voltou para seu cantinho. Eu não sabia, Zezinho, mas naquele instante, nascia uma das maiores amizades de minha vida: entre mim e você.
Mas essa timidez não demorou muito. Em poucos dias, sabendo que nós éramos bobos, você nos conquistou e logo, logo, todos nós estávamos caidinhos por você.
Zezinho, foi com muito carinho que estive ao seu lado nesses quase três anos. Foi com muita felicidade que pude te ajudar nas vacinas, na castração, na busca por uma ração que você gostasse.
Zezinho, você não sabe (ou talvez saiba), mas mobilizei céus e terras por você. Usei os contatos que adquiri ao longo de minha profissão para saber o que era melhor para você.
Ah, Zezinho... Que vai ser de nós, agora que você partiu?
Lembra, Zezinho, que quando tu descobriu a rampa, adorava fazer xixi no topo e ficar olhando-o descer rampa abaixo?
Meu querido irmão, agora que você partiu, ir em nossa casinha vai ser doloroso.
Você perturbava (e como!), mas eu adorava chegar lá, sabendo que você ficaria aos gritos ao sentir que eu tinha chegado.
Zezinho, agora que você partiu, quem vai ficar no portão de nossa casa, pulando feito louco, enquanto eu me aproximava? Quem vai ficar latindo de expectativa enquanto eu entrava em casa? Quem vai correr a casa toda, eufórico, quando eu passasse o portão, e se jogava em mim, quase me derrubando, pedindo pra brincar?
Zezinho, agora que você partiu, quem vai ficar latindo enquanto eu tentava dormir depois do almoço?
Lembra de nossa caminha, Zezinho, onde brincávamos até não poder mais?
Lembra, Zezinho, do dia que você, filhote, veio na minha casa, e bebeu na fonte do Nino?
Lembra, Zezinho, de tantas brincadeiras que fizemos juntos?
Foi em busca de seu bem-estar, meu amiguinho, que fiz tanta coisa, e perturbei tantas pessoas. Agora você se foi, Zezinho, e nossas vidas ficarão sem graça. Sinto um vazio no peito que jamais senti em minha vida.
Por você, Zezinho, chorei o que talvez nunca tenha chorado por um ser humano.
Lembra do nosso último encontro, Zezinho, quando disse que te amava? Quando disse que seu lugar era em nossa casinha, correndo no terreno que você tanto amava?
Lembra, Zezinho, que te pedi para voltar logo pra casa, porque ninguém aguentava mais sua ausência?
Por que tu foi embora, seu pulguento? Por que tu nos deixou?
Zezinho, ao longo do último mês, sofri como jamais pensei que seria possível. Sua doença afetou a todos nós.
Zezinho, você nunca esteve sozinho. Sempre lutamos a seu lado, sempre estivemos com você.
Zezinho, você foi amado, e certamente sabia disso. Talvez tenha sido exatamente por isso que tenha sido um cachorro tão abusado, um cachorro que impunha sua presença.
Zezinho, o que posso dizer agora, no momento de nossa despedida, é que você foi um cachorro especial. Um cachorro que conquistou muita gente e que, sem dúvidas, irá fazer falta.
Choro por você, Zezinho, porque choro a perda do mais fiel e verdadeiro dos amigos que tive.
Vá em paz, seu vagabundo, na certeza de que você foi amado, e de que nunca te abandonamos. Tudo que fizemos, Zezinho, foi para que você ficasse bom. Infelizmente não deu certo.
Vá em paz, meu amigo.
Te amarei até o fim de minha vida.
Carlos Viana
Fortaleza, 29 de março de 2024
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