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Oportunismo eleitoral
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Carlos Viana é jornalista da área de Opinião do O POVO. Atua também na rádio O POVO/CBN com uma coluna semanal na área de inclusão

Oportunismo eleitoral

As demais pessoas com deficiência, como visual, auditiva ou física, continuam esquecidas nos porões sombrios da história. Para além disso, é notório que muitos candidatos estão surfando na onda do autismo para ganhar votos
Tipo Opinião
Carlos Viana, repórter do núcleo de opinião do O POVO. (Foto: Carlos Viana)
Foto: Carlos Viana Carlos Viana, repórter do núcleo de opinião do O POVO.

Nos últimos anos, temos visto um crescimento no número de diagnósticos de pessoas com o transtorno do espectro autista. Sinceramente, não sei se isso se dá ao maior acesso das pessoas aos serviços de saúde ou a um modismo.

E esse crescimento da população autista tem se refletido na campanha eleitoral, não só em Fortaleza, mas em diversas cidades brasileiras.

Mesmo representando quase 25% da população brasileira nós, pessoas com deficiência, historicamente fomos esquecidos em propostas eleitorais. Mas agora, com a implantação de inúmeras políticas voltadas para o público autista, essa pauta começa a ganhar visibilidade na campanha.

No entanto, as propostas limitam-se apenas às pessoas autistas. As demais pessoas com deficiência, como visual, auditiva ou física, continuam esquecidas nos porões sombrios da história. Para além disso, é notório que muitos candidatos estão surfando na onda do autismo para ganhar votos. Alguns desses candidatos, inclusive, têm suas vidas públicas pautadas pela defesa de outros temas, mas agora, milagrosamente, perceberam que as pessoas com deficiência existem. Aliás, apenas os autistas existem.

Outra coisa que incomoda bastante são candidatos com familiares diagnosticados com autismo, que utilizam seus filhos como instrumentos de pena por parte do eleitorado, colocando essas crianças na condição de pessoas que precisam de tutores para tomar as decisões mais simples, como a escolha da própria roupa.

Há muitos anos lutamos por autonomia. Eu, por exemplo, saí da casa de meus pais há vários anos e hoje, junto com minha companheira, que também é cega, somos responsáveis por tudo que diz respeito à nossa casa, desde fazer a comida e a limpeza, até ter que conseguir alguém para resolver problemas que não temos condições, como arrumar um cano, quando este quebra.

Claro que ações que visem melhorar a acessibilidade de pessoas com deficiência devem ser ampliadas, e todos são bem vindos nessa luta. O que irrita mesmo é esse oportunismo eleitoral que vimos atualmente.

Tenho certeza que muitos desses candidatos sequer sabem o nome de alguma instituição focada no atendimento de pessoas autistas ou com algum outro tipo de deficiência.

Em 2018, a comunidade se deu mal ao caírem no canto da sereia de Bolsonaro, que tinha em sua esposa, Michelle, uma ativista na causa das pessoas com deficiência. O resultado foi que Michelle tinha uma pauta completamente assistencialista, e que as pessoas surdas foram uma das mais impactadas negativamente durante os quatro anos de trevas bolsonaristas.

Que em 2024 os eleitores com deficiência e seus familiares possam separar o joio do trigo, escolhendo quem realmente terá algum interesse em defendê-los no parlamento.

 

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