Carlos Viana é jornalista da área de Opinião do O POVO. Atua também na rádio O POVO/CBN com uma coluna semanal na área de inclusão
Carlos Viana é jornalista da área de Opinião do O POVO. Atua também na rádio O POVO/CBN com uma coluna semanal na área de inclusão
Quem tem deficiência sabe que, infelizmente, enfrentará todo tipo de preconceito quase que diariamente. Mas esse preconceito dói mais quando vem de uma pessoa que, em tese, tem conhecimento para agir de forma diferente. Tanto por sua formação acadêmica, quanto por sua área de atuação que, pasmem, é exatamente a de pessoas com deficiência.
Recentemente, minha namorada buscou um médico para realizar uma cirurgia de reconstituição na região ocular. No começo, tudo ia maravilhosamente bem, até que nos dias que antecediam a cirurgia, o médico exigiu que minha companheira assinasse um termo e fizesse o reconhecimento de firma em cartório.
Eu, que já fui submetido a várias cirurgias, indaguei o motivo. Ele desconversou. Depois, começou a colocar dificuldades sobre a pessoa que iria acompanhá-la no hospital, deixando subentendido que deveria ser alguém da família dela, algo que, até onde eu saiba, não está previsto em nenhuma legislação. Como o procedimento dela envolve anestesia geral, óbvio que teria que ter o acompanhamento de alguém, mas não necessariamente de sua família.
Mas o caso da minha namorada não é o único. Eu mesmo já fui vítima do despreparo de profissionais da saúde. Há alguns anos, busquei um urologista para uma consulta de rotina. Durante a consulta, o homem ficou o tempo inteiro dizendo que pessoas como eu não deviam andar sozinhas, e ficava perguntando como iria me atender. "Do jeito que o senhor atende a todos", respondi, já irritado.
Em outra ocasião, fui buscar um laudo médico para um concurso, com um oftalmologista. Ele, que diariamente trabalha com pessoas cegas ou que estão perdendo a visão, teve a audácia de perguntar o que eu, um cego, queria trabalhando. Segundo seu pensamento retrógrado, nós, pessoas com deficiência, devemos ficar em casa sob os cuidados de alguém. E sim, ele usou essas palavras.
Em pleno século XXI, quando o acesso à informação está sendo democratizado, é inadmissível que alguém que passou por uma universidade, e tem tantos títulos acadêmicos, ainda pense que as pessoas com deficiência precisam de alguém
para tutelá-las.
Espero que os médicos revejam seus conceitos e passem a nos tratar como realmente somos: seres humanos. n
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