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Isso é hora de fazer greve?
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Linguista e semioticista, professora da Universidade Federal do Ceará, com doutorado na Universidade de Liège (Bélgica) e pós-doutorado na Universidade de São Paulo

Isso é hora de fazer greve?

O governo de Jair Bolsonaro congelou os salários na educação por quatro anos e operou cortes severos ao orçamento da educação superior e da pesquisa. Tudo isso em meio à alta inflação na esteira da pandemia da Covid-19
Tipo Opinião
Carolina Lindenberg Lemos, linguista e semioticista, professora da Universidade Federal do Ceará, com doutorado na Universidade de Liège (Bélgica) e pós-doutorado na Universidade de São Paulo, coordenadora do Semioce - Grupo de Estudos Semióticos da UFC. (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Carolina Lindenberg Lemos, linguista e semioticista, professora da Universidade Federal do Ceará, com doutorado na Universidade de Liège (Bélgica) e pós-doutorado na Universidade de São Paulo, coordenadora do Semioce - Grupo de Estudos Semióticos da UFC.

Na esteira do 1º maio, vemo-nos em greve nas universidades públicas nacionais. As vicissitudes da carreira em educação não são segredo. Todo ano eleitoral a pauta da educação e a valorização dos docentes impulsionam discursos e candidaturas, mas a categoria permanece preterida no funcionalismo público.

Dentro da própria universidade e na sociedade em geral, questionou-se se o momento era oportuno. Muitos alegaram que a greve chega atrasada de quatro anos e pergunta-se por que não ocorreu durante o governo anterior, de fato bastante mais cruel com a educação e a pesquisa.

O governo de Jair Bolsonaro congelou os salários na educação por quatro anos e operou cortes severos ao orçamento da educação superior e da pesquisa. Tudo isso em meio à alta inflação na esteira da pandemia da Covid-19.

O fato é que greve é último recurso. A defasagem salarial é enorme. E é na situação de negociações frustradas que os técnico-administrativos em educação da UFC iniciam a greve em março, seguida da greve de docentes. Greve essa que se estende hoje para mais de 50 instituições federais de ensino superior. Isso sem falar na Uece, em âmbito estadual.

A população recebe muito mal a greve e os questionamentos vão desde a conveniência do momento até a percepção de que greve é "desculpa para não trabalhar". É de se perguntar então o que se passa entre o período eleitoral e o momento da greve. O que opera esse divórcio entre a educação e aqueles que de fato a promovem? Como se pode escolher a educação como prioridade e esquecer que é com pessoas que se educa, se ensina e se aprende?

Não há percepção mais equivocada do que pensar que a greve é saída fácil ou confortável para o trabalhador. Ao contrário. Se o custo da greve para a sociedade é grande, ele também o é para cada trabalhador envolvido. O tempo de greve é tempo de incerteza, de insegurança (a Uece teve seu direito de greve colocado em xeque pelo governo do Estado); há trabalhos essenciais que não podem parar; o trabalho acumulado deverá ser compensado; as aulas repostas; o calendário deverá ser reajustado; e, por tempo indefinido, as regularidades e expectativas do trabalho corrente serão alteradas em função do tempo que se esteve em greve. A greve custa caro. Se estamos em greve, é porque percebemos, de fato, como o último recurso.

 

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