
Linguista e semioticista, professora da Universidade Federal do Ceará, com doutorado na Universidade de Liège (Bélgica) e pós-doutorado na Universidade de São Paulo
Linguista e semioticista, professora da Universidade Federal do Ceará, com doutorado na Universidade de Liège (Bélgica) e pós-doutorado na Universidade de São Paulo
A bióloga Ana Bonassa e a farmacêutica Laura Marise, que juntas compõem o perfil NuncaVi1cientista nas redes sociais, dedicado a divulgar a ciência e a desmentir mitos acerca da ciência e da saúde foram processadas por denunciar um perfil público do Instagram que prometia "curar" o diabetes por meio de um "protocolo de desparasitação". Mais detalhes podem ser lidos na coluna de Catalina Leite neste jornal, mas o que choca é que elas perderam em primeira instância!
Como professora universitária e pesquisadora, estou sempre às voltas com a distância entre a academia e a sociedade e é cada vez mais necessário fazer chegar ao grande público o que se produz no interior das universidades e centros de pesquisa. É por isso que se fala cada vez mais da importância da divulgação científica. Isso se torna tão mais urgente numa sociedade de circulação indiscriminada de informações falsas e dos riscos que essa prática promove. Nesse contexto, Ana Bonassa e Laura Marise realizam um duplo serviço ao aproximar o conhecimento científico da população por meio do desmantelamento de mentiras sobre a saúde.
Como bem mostrou o NuncaVi1Cientista, não há relação possível entre o diabetes e a presença de vermes no organismo. "Não existe verme no pâncreas", conclui Ana. Sendo o diabetes uma doença comum e de tratamento relativamente conhecido, pergunta-se de onde vem essa notícia falsa. O fato é que se trata de doença sem cura, cujo tratamento é um manejo das taxas de açúcar por meio de remédios e cuidados no estilo de vida. A promessa de uma solução definitiva oferece uma saída simples, mas também o fascínio do desvendamento de um segredo, o deslumbramento de um mundo possível, como analisa Paolo Demuru em seu livro Políticas do encanto (Elefante, 2024).
A ação judicial visa impedir as cientistas de denunciar o perfil que divulga esse tratamento ineficaz e avisar dos riscos de abandonar o tratamento cientificamente comprovado. Torna-se assim mais importante a preservação da face do que a veracidade das informações. Que saídas mágicas sejam tentadoras é compreensível nesse mundo brutal em que vivemos, mas todo um outro problema se dá quando o magistrado se deixa levar pelo o afã da liberdade de expressão irrestrita e perde de horizonte a ciência, a verdade e o bem estar da população. n
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