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O fim do 6x1 ou a redescoberta da empatia
Foto de Carolina Lindenberg Lemos
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Linguista e semioticista, professora da Universidade Federal do Ceará, com doutorado na Universidade de Liège (Bélgica) e pós-doutorado na Universidade de São Paulo

O fim do 6x1 ou a redescoberta da empatia

A PEC sobre a escala de trabalho diz respeito a anseios mínimos de uma vida saudável e desejável, com tempo para a família, a possibilidade de cuidar de si e a perspectiva de busca de qualificação e de um melhor emprego
Manifestantes protestam contra escala 6x1 na Praça do Ferreira, Centro de Fortaleza (Foto: Cíntia Duarte)
Foto: Cíntia Duarte Manifestantes protestam contra escala 6x1 na Praça do Ferreira, Centro de Fortaleza

A Proposta de Emenda à Constituição (PEC) contra a escala de trabalho de 6x1 (seis dias de trabalho para um de descanso) ultrapassou o número necessário de assinaturas para que comece a ser discutida no Congresso Nacional. Proposta pela deputada federal Érika Hilton (PSOL) e pelo vereador Rick Azevedo (Psol-RJ), a PEC se constrói na esteira do movimento Vida Além do Trabalho (VAT), que discute os limites abusivos da jornada trabalhista.

A redução da jornada toca em receios acerca da economia. E esboçam-se argumentos sobre o trabalho que dignifica e os supostos benefícios ao capital do trabalho "até a exaustão". A resposta do movimento VAT começa por comparações com outras pautas trabalhistas como o salário mínimo e o 13º salário até mesmo o fim da escravidão. Mas os argumentos vão mais longe: o Brasil tem jornada de trabalho maior que a média mundial e diversos países já têm discutido jornadas ainda menores, de 4x3.

O fato é que a escala 6x1 acaba por reduzir a produtividade por causar danos à saúde física e psicológica. Nesse sentido, somos confrontados nas redes com relatos de pessoas que foram demitidas depois de adoecerem nesse contexto de trabalho. Sugere-se então que, a longo prazo, o custo de novas contratações por conta da redução é em parte compensado pelo aumento da satisfação e produtividade dos funcionários e menores índices de ausências no trabalho.

Para além de todas as analogias históricas e dados e hipóteses para o futuro, essa PEC responde, na verdade, a um problema muito concreto do dia a dia da população. Ela diz respeito a anseios mínimos de uma vida saudável e desejável, com tempo para a família, a possibilidade de cuidar de si e a perspectiva de busca de qualificação e de um melhor emprego. Trata da vida de hoje e da possibilidade de futuro imediato de cada um. É por isso que ela é sensível, ela faz sentido e ganha força. Uma das imagens mais tocantes usada para meme era de um torcedor de futebol flagrado pela câmera do estádio dormindo em pé em meio à comoção da torcida. A legenda dizia: "trabalhador tentando curtir o domingo de folga na escala de trabalho 6x1". Assim, ao escancarar a precariedade do cotidiano de quem trabalha em regime tão massacrante, a PEC e o VAT ressensibilizam a sociedade e despertam assim a possibilidade de mudança. n

 

Foto do Carolina Lindenberg Lemos

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