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Liberdade social e a responsabilidade das redes
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Linguista e semioticista, professora da Universidade Federal do Ceará, com doutorado na Universidade de Liège (Bélgica) e pós-doutorado na Universidade de São Paulo

Liberdade social e a responsabilidade das redes

"Liberdade – essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!" A fórmula de Cecília Meireles em Romanceiro da Inconfidência tem tanto de verdadeiro quanto de universal
Tipo Opinião
Carolina Lindenberg Lemos, linguista e semioticista, professora da Universidade Federal do Ceará, com doutorado na Universidade de Liège (Bélgica) e pós-doutorado na Universidade de São Paulo, coordenadora do Semioce - Grupo de Estudos Semióticos da UFC. (Foto: Divulgação)
Foto: Divulgação Carolina Lindenberg Lemos, linguista e semioticista, professora da Universidade Federal do Ceará, com doutorado na Universidade de Liège (Bélgica) e pós-doutorado na Universidade de São Paulo, coordenadora do Semioce - Grupo de Estudos Semióticos da UFC.

As recentes declarações do CEO da Meta, responsável pelo Facebook, Instagram e WhatsApp, redes e instrumentos de comunicação muito utilizados pelos brasileiros, ocuparam a atenção da mídia nos últimos dias. Em resumo, Mark Zuckerberg anunciava mudanças nas políticas de moderação de conteúdo de suas plataformas: o sistema de checagem de fatos será radicalmente alterado, deixando de contar com a verificação por profissionais e passando ao controle dos usuários, também reduzindo restrições em tópicos como imigração e gênero, o que na prática abre espaço para a expressão de discursos de ódio. Seu objetivo: evitar a censura – palavra-chave em sua fala – de conteúdo. Isso em nome da liberdade de expressão.

O discurso pela liberdade parece desejável, neutro, livre de vieses. No entanto, nada, em uma plataforma construída pela mente humana, é isenta de preconceitos e ideologias, inclusive as que segregam, cotidianamente, quem se desvia de um suposto “discurso dominante” (expressão de Zuckerberg). Há teóricos que utilizam o conceito de “feudalismo digital”, para qualificar a força das big techs e sua relação com o poder, o que vemos no seu alinhamento em massa com o governo Trump. A menção de Zuckerberg aos empecilhos colocados pela Europa e América Latina mostram que por aqui essa fusão ainda encontra resistência.

“Liberdade – essa palavra que o sonho humano alimenta: que não há ninguém que explique, e ninguém que não entenda!” A fórmula de Cecília Meireles em Romanceiro da Inconfidência tem tanto de verdadeiro quanto de universal e é, portanto, assumida por todos os discursos, de todos os espectros políticos. Lembramos o caso de que falamos, em setembro de 2024 nesta coluna, de um usuário das redes que ganhara um processo em primeira instância contra duas cientistas que denunciavam a mentira em seu perfil. Assim, para que ele tivesse a liberdade de dizer o que bem entende, colocando em risco a saúde de seus seguidores, elas precisavam ser cerceadas em sua liberdade de denunciá-lo. Absurdo revertido nas instâncias superiores dos tribunais, o que o exemplo nos informa é que a liberdade não pode ser vista como algo individual. Não é possível haver liberdade sem a responsabilidade sobre quem a exerce: a liberdade é social, cidadã. Levada ao paroxismo, ela nos conduz ao caos.

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