
Linguista e semioticista, professora da Universidade Federal do Ceará, com doutorado na Universidade de Liège (Bélgica) e pós-doutorado na Universidade de São Paulo
Linguista e semioticista, professora da Universidade Federal do Ceará, com doutorado na Universidade de Liège (Bélgica) e pós-doutorado na Universidade de São Paulo
Na semana do Dia Internacional da Mulher, proponho lembrar da saída recente de Nísia Trindade da liderança do Ministério da Saúde. A nomeação seguiu um critério técnico, dada sua longa trajetória na saúde pública, tendo presidido a Fundação Oswaldo Cruz e estado à frente do combate à Covid-19 na pandemia.
Durante seus dois anos no ministério implementou o Programa Brasil Saudável, que busca controlar "doenças socialmente determinadas", como tuberculose, hanseníase, HIV e malária, e o SUS Digital, que visa implementar teletriagem, teleconsultas e telediagnóstico nos municípios. Atuou na recuperação da cobertura vacinal e na ampliação do Mais Médicos e da Farmácia Popular, além do restabelecimento do piso constitucional da Saúde. No apagar das luzes de sua gestão, anunciou a vacina de dose única contra a dengue, prevista para 2026.
Nem tudo, no entanto, são vitórias, e Nísia sofreu ampla pressão ao longo dos meses. Entre as principais críticas que sofreu estavam a gestão dos hospitais federais no Rio de Janeiro, o desperdício de vacinas e a epidemia de dengue. Por outro lado, e talvez de cunho mais explicitamente político, foi criticada pela demora em implementar o Programa Mais Acesso a Especialistas (PMAE), programa com potencial impacto positivo junto à população, por ser pouco acessível à classe política e lenta na liberação de verbas.
O fato é que Nísia assumiu uma das pastas principais do governo, que esteve no centro da atenção pública desde a pandemia da Covid-19. O ministério passou por muita instabilidade no governo anterior e sofreu o impacto da má administração. Todo o seu trabalho consistiu, em suas próprias palavras, em "reconstruir o SUS e a capacidade de gestão do Ministério da Saúde".
A troca de um ministro não é, em si, algo inusitado. Governos fazem ajustes e escolhas políticas ao longo da gestão. O que quero marcar aqui é que, não sendo uma figura incontroversa — quem é? —, a ex-ministra trabalhou duro para cumprir seu papel numa das mais importantes frentes do governo Lula. Sua saída não deixa de suprimir um nome feminino de peso num governo que se propôs mais paritário desde o início. Nas reverberações do 8 de março, celebro o trabalho sério de Nísia Trindade e espero atenta por mais vozes femininas nas instâncias de poder do governo federal.
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