
Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira. É autor dos livros
Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira. É autor dos livros
"Eu canto para quem"? – pergunta o eu lírico projetado por Calcanhoto na canção “Esquadros”, composição sua lançada no álbum Senhas, em 1992. Espantando ou não os males, quem canta há de encontrar em algum lugar quem escute a canção em sua voz. Essa gaúcha de Porte Alegre canta, sem dúvida alguma, para muitas pessoas, encantando-as com seu canto.
De forma semelhante chega a mim, sempre que desenvolvo um texto, essa pergunta, em boa medida inquietante: escrevo para quem? O público de uma leitura é sempre hipotético, mesmo na dinâmica das publicações diárias ou semanais em um jornal. O público leitor de jornais é sempre plural e traz em si para o momento de sua ação leitora vivências, culturas, ideologias, o que vai, possivelmente, influenciar na recepção do dito pelo autor do texto.
Somente três pessoas tenho como certas de que são meus leitores não hipoteticamente: Ana Maria, Celsão e Marquinhos. E eles são leitores assíduos dos textos que escrevo. Têm motivações diferentes para me lerem, mas sempre estão lendo meus escritos. São pacientes eles, mas, além disso, estão acostumados com os processos metacognitivos que a leitura exige do leitor. E são críticos, bem críticos, cada um na sua medida.
Esses três leitores não hipotéticos, quando sentem vontade dialogam diretamente comigo, levantando alguma questão, indicando onde o escrito poderia ter sido melhor, até sugerem pautas de novos escritos! Mas não agridem nem nos momentos de discórdia. São elegantes em seus comentários, fato estimulante de tranquilidade quanto às avaliações deles. Muitas outras pessoas certamente não possuem a elegância deles e isso é desalentador para mim.
O desalento não vem por desejar que as pessoas concordem sempre comigo. Não, isso não existe, não é por aí. As discordâncias em sociedades civilizadas permitem evoluções dos seus cidadãos. O desalento nasce na deselegância de muitos que distribuem às pessoas insultos, ofensas, agressões... Vivo, constato, em uma sociedade fraturada. E me espanto em pensar estarmos fraturados de tal maneira que me parece não remendaremos mais.
Diante dessa fratura, é um privilégio meu saber desses leitores que são analíticos, críticos e afeitos a processos argumentativos capazes de expor ideias sobre temas muitas vezes complexos – sem serem agressivos. É um privilégio e um luxo, numa época em que, talvez pela existência da trinca, “tudo” tem de ser dito de maneira rápida, para, quiçá, haver compreensão de maneira também rápida e, portanto, superficial, quem sabe até para não haver compreensão alguma.
O dizer rápido tem gerado a certeza de veiculação de informações superficiais e muitas vezes enganosas e enganadoras. Infelizmente, uma máxima desse tempo de agora. Dizer algo de maneira analítica tem ensejado a designação da alcunha de "prolixo" àquele que busca dizer em maior profundidade. Os “prolixos”, então mais propensos a serem analíticos, estamos sofrendo uma intensa e contínua pressão (mesmo que não explícita) para não sermos tão longos nos dizeres.
Safos defenderão a ideia "Diga muito, em poucas palavras, sendo objetivo e sintético". Nem sempre isso é possível; há temas exigentes de olhar mais vagaroso e atento, com abordagem mais aprofundada. Como o tema percorrendo todo esse texto. Além dos três citados acima, quem será meu leitor? Quem poderá dar a esse escrito o direito dele à repercussão?
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