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Sobre mentiras pueris
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Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira. É autor dos livros

Sobre mentiras pueris

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Tipo Crônica

Na infância, não é incomum rebentos trocarem a verdade por alguma mentirinha, sem que esta gere qualquer prejuízo para alguém ou para si próprios. Muitos pais, exatamente aqueles repletos de boas intenções formadoras, instruem a descendência para que não minta nunca, para que sempre diga a verdade, esclarecendo ser o hábito à mentira um potente gerador de problemas vida à fora.

A lógica amorosa dos bons pais os leva a fazerem isso: orientam carinhosamente a filharada para andar sempre imbuída de verdade. Em qualquer situação, o nexo é que as mentiras não vicejem na formação dos descendentes. Impõem penas, quando veem alguma transgressão acontecendo. Punem para educar, para evitar algum acontecimento desagradável futuro.

No entanto, há famílias nas quais ações amorosas infelizmente não vingam, prevalecendo nelas a punição aos filhos como método humilhante para a subserviência, para a obediência cega, não formativa, negligenciando-se estratégias para a compreensão, para a experiência da superação do erro por meio do afeto, por meio do diálogo. Castigam com agressões. E em ambientes propensos a abusos de toda ordem, uma criança pode desenvolver o hábito de mentir para encontrar proteção contra alguma penalidade iminente.

Mentir para afastar-se de maus tratos inflama medo relacionado ao que pode fazer o adulto pai e a adulta mãe para punir as crias de algo a causar-lhes insatisfação. Devido a esse temor, as crias, pequenas e jovens, tentam enganar os pais sobre as falhas cometidas, algumas ainda nem compreendidas como erros. O punir em lugar do educar pode servir de alimento para crescente e silenciosa revolta, a partir do medo enclausurado, pronta para tornar-se explosão em momento surpreendente, com desfecho inesperado.

Há, porém, quem transite no mundo crescendo entre mentiras várias, acostumando-se a elas. Acostumam-se, entendem-nas como algo natural e bom para conseguir o que é de desejo. Para tudo a mentira é o ponto de partida como mecanismo de apoio, de defesa, de organização para toda e qualquer fala, para todo e qualquer ato que se torna impossível uma experiência com a verdade. A falha no caráter torna-se sólida e indestrutível.

Uma verdadeira lástima.

A vivência por meio da mentira apaga pessoas, destrói comunidades, aniquila cidades, extingue sociedades, arrasa um país.

Mentirinhas infantis devem ser tratadas com atitude e pensar educativo, formador para a compreensão de que ela semelha a erva daninha, devendo, por isso, ser cerceada, a fim de não prosperar. Progredindo, tem força destrutiva imprevisível.

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