Segunda-feira, saindo de casa,

- Senhor!? Senhor!? O senhor vai sair de casa e deixar seu cão abandonado na rua?

- Que cão? Desculpe-me, ele não é meu cão.

- E esse rabo abanando pro senhor aí? Por que lhe acompanha os passos?

- Não tenho a mínima ideia. Só sei que não é meu. Nunca tive cão algum.

- Tá vendo isso, gente? Isso é o que a gente pode chamar de abandono de animal. E abandono de animal é crime!

Estava feita a confusão.

- Pensa que vai pra onde, cidadão? Passa não. Por que o senhor está maltratando aquele animal?

- Mas não estou abandonando animal nenhum! Já disse, esse cão não é meu.

A viatura encostou. Os policiais desceram meio agitados. Por causa do burburinho, a delegacia se insurgiu na vida tranquila daquele trabalhador.

- Já disse a todos, delegado, que não estou abandonando cãozinho nenhum. Ele não é meu.

- O senhor pode provar que ele não é seu? A vizinhança afirma que é.

- Que vizinhança que nada! Nunca vi na vida aqueles que me acusam. O senhor também não pode provar que ele é meu. Nem o senhor nem ninguém.

- Ainda por cima é insolente! Vai passar o dia e a noite aqui. Amanhã vamos ver se o senhor ainda insiste nessa história. E você, rapaz, que presenciou tudo, assume a tutoria do animal a partir de agora.

- Eu, seu delegado? Mas eu só vi a cena, estava passando, não tenho condição de cuidar de bicho não.

- Esse bicho é um animal, um cãozinho que precisa de cuidador e parece que você foi o primeiro a presenciar os maus tratos. Vai cuidar dele pelo menos até um juiz decidir toda a pendenga.

E o dia correu. E a rua voltou à sua rotina. E o assunto foi esquecido sem se saber como o caso foi resolvido.

Era terça-feira,

- Ei, rapaz. Ei, psiu. Ô, rapaz, corra não, engraçadinho... Por que você está deixando seu cãozinho amarrado aí nessa árvore?