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Por si?
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Chico Araujo é cearense, licenciado em Letras, professor de Língua Portuguesa e de Literatura brasileira. É autor dos livros

Por si?

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Tipo Crônica

Considero no mínimo estranho alguém querer afirmar de maneira categórica que pensa genuinamente por si próprio, asseverando que não se permite influenciar pelo pensamento “dos outros”. Balela! Não vivemos sozinhos. Influências e ideologias estão ao nosso redor.

Em sociedade, é impossível alguém pensar e fazer o que quer de forma plenamente independente, sem qualquer influência. Não dá! Não existe essa condição, não há essa possibilidade. Se não vivemos sozinhos, estamos, constantemente, no cotidiano, sujeitos a entrar em contato com o pensamento alheio – e com as ações ocorridas a partir dele.

Nasceu em uma família? Óbvio que sim, não é? Pois, no seio dela, vai sofrer influência dos ascendentes. E eles vão moldar sua existência até, pelo menos, a adolescência. Você pode ir se desenvolvendo pela infância até sem muitas restrições, mas essa liberdade esbarra nos limites do que os ancestres consideram possível. Além deles, os fraternos também servirão como influenciadores do seu pensar, do seu entender o mundo, do seu agir nele.

A família tem laivos religiosos? A religião, já determinante na ascendência, vai repercutir na sua existência, na sua maneira de pensar, na sua forma de agir. Vai influenciar na sua escolha das amizades, na sua seleção dos lugares por onde andará, no seu comportamento cotidiano por onde transitar, na escolha de livros a serem lidos e filmes a serem assistidos, na determinação de frequência ou ausência em espetáculos artísticos, em bares, no consumo ou não de bebidas com álcool.

Interage com a comunidade onde mora? As características dessa comunidade vão ser percebidas por você que poderá, em boa medida, repetir pensamentos e ações dela. É uma comunidade pacífica, que preza a harmonia entre as pessoas da vizinhança? Ou, contrariamente, preconiza ideias que remetem ao egoísmo e ao desrespeito ao semelhante, pouco importando se ele está bem ou mal? Na convivência com uma ou outra situação, ou mesmo na experiência de ambas, receberá delas impactos que poderão lhe moldar.

Foi ou vai a alguma escola? Pratica ou praticou esporte? Teve ou tem proximidade com a criação de alguma arte com viés coletivo? Participa ou participou de grupo de pesquisa ou estudos? Clube de leitura? Cursou ou ainda se gradua em uma universidade? Então,... Sem essa de defender a ideia de que pensa por si só. Não, não pensa. Ninguém pensa. E todos estamos repletos de questões ideológicas em nosso existir, percebamos ou não, saibamos ou não.

Não é acertado alguém dizer que vive sem influências e que, por isso, não se guia por ideologia e que, mais ainda, vai combatê-la assim que dela tiver conhecimento por perto de si. Isso é falácia ou mentira mesmo, talvez uma forma tendenciosa de enganar. Enganar para exercer sobre o outro, alguém próximo (ou mesmo distante nesses tempos de redes sociais digitais), influência para, ao fim e ao cabo, impor a ele a ideologia que diz não ter, subjugando-o por falsidade.

Foto do Chico Araujo

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